por Marcelo Ariel
Como foi seu dia ?
A questão é outra para além das citações e dos devaneios de felicidade, talvez ela seja isto mesmo, um devaneio, não é, Sr. Bachelard ? Jean Genet é Divino mas tem chulé, não é mesmo, Dona Ruth? Cartola é gênio mas ele que não me apareça por aqui para filar a bóia…as pessoas amam com tanta reserva que o amor se cansa de esperar o espírito dominar a carcaça e sair na forma de silêncios, beijos e abraços em mendigos, noviças e monges da Crackolândia, todos ao mesmo tempo e na mesma pessoa, não é mesmo, Dom Júlio Lancelotti? O amor se cansa de esperar nossa ausência se instalar dentro de nós, condição essencial para que a flor de pó de luz chamado OutreOutraOutro possa entrar. Ia jogar fora meu nome, mas mudei de idéia. Hoje foi mais um dia dedicado a este demônio chamado ‘ Burocracia’ , haviam várias servidores-as dele com o olhar cansado, desesperançoso, sem horizontes, uma delas pegou meus papéis e disse: eu não estou aqui, estou em reunião com a secretária, mas a culpa não é minha, você veio sem avisar, sem agendar antes. Percebi no seu olhar que ela-ele havia se assustado comigo, talvez eu fosse para ele-ela uma pequena metáfora do inesperado, este pequeno anjo que a morte obedece como se fosse seu chefe de repartição. No caminho atravessando o túnel para tentar encontrar outros anjos e demônios tão cansados quanto o amor, senti uma saudade brutal do tempo infinito da infância, quando a vida era maior do que a vida falada-escrita e primeiro brincávamos, depois numa espécie de ato falho extraordinário nossa voz queria saber o nome do ser em flor do pó de luz que estava ali dividindo a alegria, a burocracia matou essa voz?
