Sobre o Ciclo
IV Ciclo de estudos:
Há uma expressão dos adultos em direção às crianças que gosto muito: “este menino está impossível!”. Há algo aí para meditarmos. Primeiro o lugar de quem nomeia: o adulto. Depois, o objeto da nomeação: a criança. Sim, a palavra objeto está aqui de propósito. Quando estamos diante de uma criança-impossível a subjetividade do impossível se materializa diante do adulto, a criança deixa de ser objeto. O adulto, que está tão rente aos seus saberes e aos seus poderes, desfaz-se de algo. É o instante de perceber que o possível é o exercício daquele que se acostumou à realidade e que o impossível é um convite a ir além, da “desacostumação”, para desmanchar os costumes, para caminhar mais, para conhecer o mundo por outra via que estes que nascem (as crianças) nos apontam.
Gosto muito da frase que está no texto homônimo deste ciclo, O Enigma da Infância, de Jorge Larrosa (2006, p. 194): “(…) o impossível é aquilo frente ao qual desfalece todo saber e todo poder. Somente nos despojando de todo saber e de todo poder nos abrimos ao impossível”.
Quando fiz o convite a estas pessoas incríveis que compõem este nosso Ciclo de Estudos O Enigma da Infância, enviei-lhes este outro trecho do texto: “As crianças, esses seres estranhos dos quais nada se sabe, esses seres selvagens que não entendem nossa língua. (…) A infância como um outro não é um objeto (ou o objetivo) do saber, mas é algo que
escapa a qualquer objetivação e que se desvia de qualquer objetivo”. (ibidem, p. 183 e 185). E segui dizendo a elas que partiríamos desta imagem dada por Larrosa (concordando, discordando, aproximando-nos, distanciando-nos), a partir da trajetória sensível de cada uma destas pessoas imensas em suas pesquisas e experiências com a infância como categoria e as infâncias como experiência plural.
Viveremos 10 encontros com o “Enigma da Infância”, diariamente, de maneira contínua, sem interrupções entre os dias 16 e 25 de outubro (incluindo sábado e domingo). Você pode participar ao vivo, sincronicamente (visto que o Ciclo será todo online por meio da plataforma zoom) ou poderá também assistir às gravações no seu tempo. O Ciclo ainda ficará disponível por 3 meses para que possamos sorver com calma as partilhas sensíveis que estas pessoas “impossíveis” estão percorrendo nas suas belíssimas trajetórias.
Seja bem-vinda, pessoa querida, a esta jornada de boas prosas e muitos estudos!
QUEM ESTARÁ CONOSCO? O QUE VAMOS ESTUDAR?
Dia 1 –
16/10, segunda-feira, das 19h30 às 21h
“O Enigma da Infância”, uma leitura do texto de Jorge Larrosa e um convite aos saberes das infâncias
Com Giuliano Tierno
Sobre o encontro: “O Enigma da Infância” é um texto escrito pelo filósofo espanhol Jorge Larrosa e compõe o livro “Pedagogia Profana”, publicado no Brasil pela editora Autêntica. O encontro tem duas finalidades: a primeira, a de apresentar e destacar algumas das ideias que circulam no texto; a segunda, a de partilhar as concepções da curadoria do Ciclo.
Dia 2
17/10, terça-feira, das 19h30 às 21h
A criança: O não ser
Com Gandhy Piorski
Sobre o encontro: O vital é ainda um doloroso estranhamento para a civilização. Seu primeiro afloramento eclode seres iniciais, seres em sua infância. A criança é fruto cintilante do vital, é uma angústia para o mundo.
Dia 3
18/10, quarta-feira, das 19h30 às 21h
Decifra-me ou te devoro: o enigma da infância frente à busca por um conhecimento-emancipação
Com Bruna Ribeiro
Sobre o encontro: Como buscar o conhecimento sem petrificá-lo? Sem torná-lo pedra, letra morta e eco? Como nos aproximarmos da(s) infância(s), como escutá-la, mas fitando-a nos olhos, e não com o uso de espelhos (como Perseu, no mito da Medusa), onde vemos apenas a nós mesmos? Adentrar o universo das Miudezas se faz necessário a todos aqueles e aquelas dispostos a olhar bem nos olhos da Medusa.
Dia 4
19/10, quinta-feira, das 19h30 às 21h
Meninices: inquietudes que habitam a pluralidade das crianças
Com Ananda Luz
Sobre o encontro: Um encontro-convite para reparar nas meninices e seus territórios. Não o reparo do conserto, mas sim o reparar que nos convida a ver os detalhes, nos encontrar com as miudezas que se faz possível quando vemos com todos os sentidos para, assim, se inquietar e dialogar com o que há de mais potente na criança: ser plural.
Dia 5
20/10, sexta-feira, das 19h30 às 21h
A literatura indígena para a primeira infância
Com Trudruá Dorrico
Sobre o encontro: A literatura indígena oral sempre se preocupou em lembrar que os sujeitos indígenas são parte da natureza desde a primeira infância. Embora o regime moderno tenha feito esquecer, a literatura indígena editorial, no movimento de nakoada, retoma esse princípio para se fazer ouvir. A literatura indígena e a primeira infância destinam-se sobretudo a todos aqueles que esqueceram que também foram e são floresta.
Dia 6
21/10, sábado, das 9h às 10h30
Mistérios das crianças e suas infâncias.
Com Adriana Friedmann
Sobre o encontro: As infâncias e as crianças são um enigma para todos nós! Elas têm saberes e formas de dizeres únicos. Desses pouco sabemos. Nos aproximarmos dos seus mundos e enigmas é ousado, necessário e urgente. Desvelar nossas próprias memórias de infância para chegar nas delas, ‘na ponta dos pés e em silêncio’, com todo respeito – se elas nos permitirem. Devemos? Podemos? Vamos refletir a este respeito a partir das vozes de crianças de territórios diversos.
Dia 7
22/10, domingo, das 10h às 11h30.
Eleguá e a tecnologia da traquinagem, da invenção e do brinquedo
Com Antonia Matos
Sobre o encontro: “Guardião das portas de todas as casas e seus moradores. Dono dos apitos e dos tambores. Está todo ligado em tudo. O torto, o invertido, a contradição.” (trecho da peça Eleguá menino e malandro). Eleguá é o mais importante dos orixás da Santeria Cubana. Lá ele é representado por uma criança e por isso é muito travesso, zombador e brincalhão. Ele é um membro real da família dos orixás. No Brasil, é conhecido como Elegba, Elegbara, Exu, entre outros. Aqui, muitas vezes ele é injustiçado, tendo suas histórias e suas características distorcidas, sendo cercado de preconceito e discriminação. A mitopoética cubana nos aponta uma flecha para pensarmos a criança, divina e profana, através dos elementos primordiais dessa divindade: a malandrice, a traquinagem, o imprevisível. Essas são as pegadas de desejamos seguir nesse encruzilhar de conversa travessia.
Dia 8
23/10, segunda-feira, das 19h30 às 21h
A alteridade da infância e seus desafios: o saber, o não-saber e o desconhecer
Com Waldete Tristão
Sobre o encontro: Ah, a infância… difícil de compreender, difícil de definir ou de conhecê-la a fundo, ambígua a ao mesmo tempo metafórica. À luz de Jorge Larossa, a infância como “um outro”, não o que já sabemos, mas tampouco o que ainda não sabemos. “Um outro” desafiando-nos ao que ainda é desconhecido, que, ao justificar o poder do conhecimento inquieta completamente a segurança do adulto. Vamos falar um pouco sobre isso?
Dia 9
24/10, terça-feira, das 19h30 às 21h
As crianças em instituições de vida coletiva
Com Paulo Fochi
Sobre o encontro: Como pensar uma escola que acolha a novidade, a potência e a força da infância? Essa é a pergunta que guiará a conversa deste encontro do Ciclo de Estudos – O enigma da infância. Dialogar sobre uma escola hospitaleira e que celebre as gerações que estão chegando é o desafio proposta neste diálogo
Dia 10
25/10, quarta-feira, das 19h30 às 21h
O que pode a infância?
Com Renato Noguera
Sobre o encontro: Qual é a relação entre educação e infância? O que a infância pode acrescentar para a vida social e política? A partir de algumas reflexões filosóficas de Orunmilá, Bunseki Fu-Kiau, Tanella Boni, Oyeronke Oyewumi, Walter Kohan e Jorge Larrosa, vamos debater o caráter tridimensional da infância. O objetivo é articular os conceitos de educação, infância, poder e potência, num diálogo entre versos da cultura iorubá e trechos do Novo Testamento, interpretando um conto dos Ibeji com uma passagem bíblica para se aproximar da pergunta-título do encontro, “o que pode a infância?”
Quando:
03 encontros online e ao vivo no Zoom
Aulas gravadas com acesso por três meses
Início – 09,10 e 11/10/23