Será que perdemos a capacidade de dialogar?

por Cordélia Correa

 

 
  • “Em um diálogo não há a tentativa de fazer prevalecer um ponto de vista particular, mas a de ampliar a compreensão de todos os envolvidos” – David Bohm

Nos tempos atuais parece que a convivência tornou-se um dos grandes desafios para nós seres humanos… estamos numa busca incessante por uma sociedade mais justa em que as diferentes vozes possam coexistir e dialogar, trocar e respeitarem-se, em contrapartida crescem movimentos que tentam silenciar e desvalorizar as diferenças. Num mundo polarizado, resgatar nossa capacidade de dialogar e a possibilidade de intercâmbio de ideias tornou-se vital.

Em seu livro “Pedagogia da convivência” Xesús R. Jares afirma que o diálogo é um fator essencial para melhorar a qualidade de vida das relações humanas. Sem o diálogo inibimos nossa capacidade de resolver conflitos, de demonstrar empatia e contruir algo novo, deixamos de exercitar o que nos diferencia enquanto espécie, atrofiamos nossa capacidade de ser e estar no mundo. Ampliar nossa escuta e nossa observação são possibilidades que o diálogo nos traz, a ideia é ampliar nossa percepção sobre nós mesmos e sobre os outros, projetar outros pontos de vista, refletir e desenvolver senso crítico. Vale lembrar que em um diálogo genuíno todos ganham.

Ao resgatar a etimologia da palavra diálogo, encontramos sua origem grega día (através) e logos (sentido), assim dialogar pode ser entendida como uma forma de encontrar sentido. Esse sentido se busca e se encontra coletivamente, na relação com o outro ressignificando meus pensamentos e me abrindo para a possibilidade de conexão, pois é no meu encontro com o outro que me humanizo, me reconheço e me modifico. Confiança, disposição, abertura são elementos essenciais para esse processo.

A palavra materializa o diálogo, dependendo da palavra usada podemos nos aproximar ou nos distanciar. As palavras têm força, podem destruir ou inspirar, nesse processo de diálogo a escolha por palavras que promovam uma comunicação não-violenta parece ser o ponto principal para o resgate de nossa capacidade de troca.

Lembrei-me de um poema que li recentemente de Ryane Leão:

Falar é veneno ou antídoto?

O que você diz

Pode ecoar durante anos

As palavras ficam

Pra sempre no universo

O poema sintetiza minha reflexão sobre nosso compromisso com as palavras, com o diálogo e com nossos interlocutores. Se a palavra tem força e se há força nas palavras que possamos esperançar, como diz Paulo Freire, recuperar nossas possibilidades de encontros, de acolhimento, fazendo uso do que existe de mais poderoso entre nós: o diálogo.

 

 

 

 

Cordélia Correa – Formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo, possui especialização em Arte-Educação pela ECA-USP, estudos em Relações Interpessoais e Ética pelo Instituto Vera Cruz. Atua na Educação há mais de 25 anos e em sua trajetória atuou como professora, orientadora e coordenadora em instituições como Colégio Sidarta, Colégio Miguel de Cervantes e Maple Bear Sorocaba. Atualmente vive em Barcelona, Espanha, seguindo firme no caminho das Artes e da Cultura de Paz, ampliando conexões através de consultoria pedagógica. Tem um coração apaixonado pela Educação e pela Arte, inquieta acredita no poder da diversidade e da troca através do diálogo. A esperança em um mundo melhor impulsiona a continuidade. Entre os tantos papeis destaca ser mãe da Helena e do Miguel.

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