Palestrantes da mais importante feira de livros para a infância do mundo falam o que pensam e o que sonham.
Os visitantes escutam o que precisam para se transformar e realizar.
Por Paula de Santis
A Feira Internacional do Livro para a Infância de Bolonha, na Itália, é um pedaço do mundo. Daqueles poucos que serão capazes de interferir significativamente no futuro.
Em seus corredores, salas e estandes falam-se todas as línguas, vê-se todas as gentes, cruza-se com infinitas culturas. Não é exagero dizer que são muitas viagens em uma só.
Apesar das máscaras, obrigatórias por causa da pandemia, é possível ler nos olhos o tamanho do sorriso de cada um. E nas apresentações e debates, cabe a nós uma escuta generosa e atenta. Jamais sem respirar fundo entre um e outro para recuperar o fôlego.
Só depois de ler tantos olhos, escutar tantas palavras e tomar ar, começamos a digestão. Temas aparentemente desconexos se unem, como as moléculas absorvidas pelo nosso intestino. Formam um sentido inteirinho, para a vida toda. Frases de quem não se conhece e nunca se leu ou se ouviu ligam-se uma à outra como um código genético existente há muitas gerações. Palavras que se combinam como se jamais tivessem existido separadas. Ideias vão ganhando musculatura e virando um corpo.
Depois de meses, as reações químicas ainda estão a todo vapor aqui dentro de mim. Misturam-se aos hormônios à flor da pele e a outros alimentos que continuam chegando. Quando me sinto repleta, com a sensação de que não cabe muito mais, despejo um pouco do excesso no papel, que me acolhe sempre querendo mais.
Deixo uma pequena amostra desses fragmentos tão especiais para que você também possa desencadear suas próprias transformações e deleitar-se com seu laboratório particular.
“Você deve ser vulnerável para sentir e expressar a vulnerabilidade do outro.”
Fatinha Ramos, ilustradora (Portugal)
“Como ilustrar o amor?”
Fatinha Ramos, ilustradora e artista visual (Portugal)
“A história não acaba quando se fecha o livro.”
Michiel Kolman, presidente do Comitê de Alfabetização e Publicação Inclusiva da International Publishers Association (Holanda)
“Não é preciso complicar as coisas. Precisamos ajudar as crianças a transferir suas experiências cotidianas relacionadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável aos outros países.”
Michiel Kolman, presidente do Comitê de Alfabetização e Publicação Inclusiva da International Publishers Association (Holanda)
“É preciso olhar para o ativismo jovem. Eles são as vozes que o mercado editorial precisa escutar.”
Antje Waterman, profissional de marketing na Nações Unidas (Estados Unidos)
“Os livros têm um poder sutil de serem catalisadores de mudanças.”
Raluca Selejan, livreira da Two Owls Bookshop (Romênia)
“Toda criança tem o direito de ler livros de qualidade.”
Zohreh Ghaeni, especialista em literatura infantil e diretora do projeto Read with Me (Irã)
“O Brasil é um país em guerra permanente. Crianças acordam com fome, contraem doenças evitáveis, gritam de medo e dormem com o barulho de tiros. A literatura constrói o futuro e o presente.”
Bel Mayer, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), co-gestora da LiteraSampa, docente de pós-graduação no Instituto Vera Cruz e n’A Casa Tombada, mestra pelo PPGTur/EACH/USP (Brasil)
“Nossa biblioteca [Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura] ocupou o cemitério: um lugar de morte para falar de vida e de literatura.”
Bel Mayer, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), co-gestora da LiteraSampa, docente de pós-graduação no Instituto Vera Cruz e n’A Casa Tombada, mestra pelo PPGTur/EACH/USP (Brasil)
“Ler é interrogar as palavras.”
Maria Beatriz Medina, diretora do Banco del Libro (Venezuela)
“Criar livros para crianças enriquece a comunicação intercultural. É preciso manter os elementos de outra cultura: as crianças merecem saber quem está no mundo”.
Katherine Uwimana, especialista em desenvolvimento de livros e em abordagens inovadoras para a alfabetização (Ruanda)
“Se alguém vai mudar o mundo, são as crianças. Meu trabalho é ajudá-las.”
Yuval Harari, professor de história, filósofo e autor (Israel)
“É necessária uma tribo para escrever um livro.”
Yuval Harari, professor de história, filósofo e autor (Israel)
“Minhas ilustrações são cheias de ambiguidades, como as crianças.”
Beatrice Alemagna, autora e ilustradora (Itália)
“O livro é um território de descobertas, de experimentação.”
Benjamin Lacombe, autor e ilustrador (França)
Paula Santis compartilhou sua experiência de estar pela primeira vez na mais importante feira do livro para infância no texto: FEIRA DO LIVRO DE BOLONHA: minha primeira vez na beira do mar.
Paula de Santis é jornalista, escritora e mãe do Rodrigo e da Alice. Tem MBA e mestrado em Negócios de Impacto e Economia Solidária, respectivamente. Em 20 anos de carreira escreveu sobre economia e finanças em jornais e revistas da imprensa brasileira, atuou em comunicação corporativa e desenvolveu projetos para ONGs no Brasil. Hoje mora na França e cursa a pós-graduação O Livro para a Infância, n’A Casa Tombada.