As linhas do nosso corpo e nossas trajetórias de vida: reflexões sobre a pesquisa.

por Camila Feltre

 

A Turma 8 da Pós O livro para a infância se reunia depois do recesso de julho, em 06 de agosto de 2022. As manhãs de sábado sinalizam uma temperatura que aguarda o devir, um fazer, pensar, estar junto. Nós três, Cristiane Rogerio, Ananda Luz e eu, coordenadoras da Pós, propomos discussões sobre a pesquisa, escrita e o percurso do TCC, algo que é presente desde o primeiro dia de aula: como nos vemos pesquisadores e pesquisadoras que fazem parte de um coletivo que estuda os processos contemporâneos que envolvem o livro para a infância.

Algumas das nossas questões trançadas durante o encontro: Qual o seu instante da pesquisa? Como reafirmar que todos os saberes importam? Como creditamos quem é pesquisador? A escrita de si e o texto acadêmico: como dialogam?

Estas perguntas foram disparadoras das conversas desta manhã que, em grupos nas salas simultâneas – recurso que usamos do Zoom para dividir em grupos menores – ganham vozes e entrelaçamento de pensamentos. Para encerramento do encontro, propomos um exercício que pudesse “dar a ver” essas reflexões: dúvidas, pensamentos, incômodos, deslumbres, insights, descobertas, perguntas…

Em diálogo com os livros “Animãos” de Paz Rodero, tradução de Thiago Nieri, lançado este ano pela Callis, e “As Linhas no Rosto de Nana”, de Simona Ciraolo da FTD, 2020, que Cristiane nos apresentou em reunião anterior a aula, ficamos entusiasmadas em criar uma proposta para a turma. Ambos traziam reflexões sobre as linhas do corpo, mas de maneiras bem distintas: no “Animãos”, uma brincadeira de criança que fazia carimbos com as mãos e no “As linhas no Rosto de Nana”, uma conversa profunda entre avó e neta sobre as linhas que nosso corpo guardam memórias do que vivemos.

Assim, pensamos em convidar as e os estudantes a carimbarem partes do corpo em suportes como papel ou tecido e usar estas impressões para desenhar tudo o que pudesse estar transbordando do nosso encontro. O que revelam nossas linhas das mãos e do corpo? Como se formam esses cruzamentos? Quais caminhos percorrem? Como elas se desenham no papel?

Esse assunto faz parte da pesquisa que venho me aprofundando no doutorado: os fazeres das mãos e do nosso corpo e como eles (os fazeres) são processos individuais, coletivos, que revelam trajetórias únicas e também sobre nossa ancestralidade.

Refletimos o quanto as marcas, percalços, acontecimentos vividos neste percurso que chamamos vida, deixam registros no nosso corpo. E que estes revelam nossa trajetória, que é individual, subjetiva e única.

Todas essas reflexões são trazidas para nos perguntar e ampliar a discussão sobre a pesquisa: o quanto nossas pesquisas são reflexos de nossas histórias, das nossas experiências e como elas crescem e se ampliam no coletivo, ou seja, em encontro com outras narrativas.

Essa é uma das nossas premissas na Pós: pensar sempre o que é estudar e pesquisar no coletivo, valorizando as experiências de cada uma, de cada um.

E o nosso encantamento foi imenso, de encontro com o não saber, com o que vai surgir a partir da proposta, esse devir que me referi no início do texto, nos encontramos com imagens e histórias que ampliaram ainda mais nossa forma de pensar isso tudo.

Surgiram impressões de partes do corpo como a boca, feitos com tinta de cúrcuma, terra, água, café, cinza de incenso, sobre papel, tecido e livros, vazios que foram preenchidos por palavras, frases, perguntas, escritas que transbordaram, e que pudemos ver durante a aula, e produções feitas em registros de fotografias e vídeo. E nós, como proponentes, também transbordamos ao perceber a entrega do coletivo e a riqueza de produção quando nos damos a ver o que refletimos juntas e juntos.

 

Algumas frases, imagens e vídeos que as/os estudantes compartilharam no Fórum “Carimbos do corpo: as linhas e os nossos caminhos”

Usei o pó de café fresco, feito pela manhã. As palavras foram escritas depois de seco, mas anotadas a partir da conversa com o grupo. Narrar, narrar-se, poética da ausência, memória, dor, tempo, linhas, infância, história. Vimos semelhanças em nossos anseios, histórias. Somos semelhantes em nossas diferenças. SHEILA ALEGRIA

 

Que manhã incrível. Manhã de pulsar por vezes acelerados… por vezes entregues ao serenar, ao conectar com o outro e ao conectar-se. Utilizar o corpo como marca, como expressão foi algo forte. As digitais que pulsavam… a cor que iluminava a escuridão. Um desdobramento da carta, das conversas, das reflexões para o TCC, das entregas… As três palavras continuavam a pulsar e ressoar em minha mente. A poesia “Sol” também acabou sendo minha inspiração. E ainda ao limpar os dedos em um papel, verso da poesia “Pulsar”, um pouco de água caiu e a poesia apareceu. Virou parte da composição como um coração amarelo… amar-elo, minha cor favorita, cor da luz e do sol. O universo nos dando seus presentes. ∞ THAÍS DOLS

 

Usei a cúrcuma de batom. O sabor é bom.

Beijei a folha de papel. Deixei as linhas dos meus lábios.

Para acreditar mais nas minhas palavras. 

Crer nas minhas ideias.

Deixá-las viajar mundo afora. MÔNICA FRAGOSO

 

Olhando profundamente para o que fiz, reli e apreendi que assim… brincando de fazer, estou escrevendo o meu TCC sobre minha ancestralidade. TATIANA SECCO FAZIO

 

Mãos pesquisadoras. DANIELA STORTO

 

Mãos que cuidam, tecem, bordam, costuram, lavam: fazeres historicamente protagonizados por mulheres, ainda que suas vozes – para além de suas mãos – não sejam muitas vezes escutadas. Temos, ao contrário do que muitos insistem em dizer, forças ancestrais que passam pelas nossas mãos em diferentes ofícios, vozes que tecem em multiplicidade o amanhã, profundidades que se exigem em exercício de reconexão – reconexões, inclusive, por entre palmas que buscam superar o que se tem de oco, por entre dedos não apontadores, senão ganchos de afeto. Mãos que (se) escrevem. KARINE BASTOS

 

Christiane Maia

 

Christiane Maia

 

Christiane Maia

 

Chris Tragante 

Dani Storto

 

Dani Ramos

Edith Chacon

Eric Sponholz

Flávia Itabaiana

 

Jade Selva

Jade Selva

Jade Selva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Karine Bastos

Mônica Fragoso

Náthaly Salazar

Náthaly Salazar

 

Náthaly Salazar 

Núbia Dias

 

Regiana Nunes

Regiana Nunes

Sheila Alegria

Tatiana Secco Fazio

Tatiana Secco Fazio

Tatiana Secco Fazio

Tatiana Secco Fazio

Tatiana Secco Fazio

 

Thaís Dols

Thaís Dols

Thaís Dols

Thaís Dols

Thaís Dols

 

 

Thiago Lira

 

Carina de Luca

 

Dani Ramos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAMILA FELTRE é doutoranda em Artes no Instituto de Artes da UNESP com a pesquisa: Processo de criação de livros como espaço de formação.  Escreveu o livro “É um livro? Mediações e leituras possíveis” publicado pela Editora UNESP em 2018. É professora e co-coordenadora na Pós-graduação O Livro Para a Infância – processos contemporâneos de criação, circulação e mediação d´A Casa Tombada. Atuou como educadora em instituições culturais como Centro Cultural São Paulo, Espaço de leitura, Casa das Rosas e no Programa de iniciação artística (PIÁ) da Secretaria Municipal de Cultura.

Cursos d'A Casa

[29/04/21] Descobrindo os 4 elementos da astrologia em nós – com Liliane Pellegrini e Melissa Migliori

[13/03/21] Correnteza: uma jornada de mulher em jogo – com Yohana Ciotti

[09/03/21] Educação antirracista com histórias: mitos e contos africanos e afro-brasileiros – com Giselda Perê

[09/03/21] Ateliê de voz: escuta, experiência e criação – com Renata Gelamo

[09/03/21] Escreviver – com Lúcia Castello Branco

[08/03/21] A Linha e seus papéis – com Edith Derdyk