AQUI ESTAMOS NÓS: por que estes são os livros para infância hoje no Brasil com Cristiane Rogerio

Estudar o livro para a infância no Brasil é como olhar para um emaranhado de fios ou linhas de diversas texturas, cores e tamanhos. Podemos pensar que cada linha é a trajetória de um de nós – criadora/criador, editora/editor, leitora/leitor, mediadora/mediador, educadora/educador, mãe, pai, criança – e que, por sua vez, traz consigo memórias de leitura, histórias de acesso aos livros e relações ideológicas/afetivas/econômicas/sociais/políticas com eles. Daí entendermos que a tarefa é árdua e delicada – não podemos puxar nem um fio sem o cuidado devido. Neste grupo em que o nome faz alusão a um livro do autor irlandês Oliver Jeffers, vamos estudar sobre os marcos históricos, leis da educação e as ligadas ao setor livreiro, e pensar como se fala sobre o livro para a infância aqui e quais os desdobramentos éticos e estéticos disto. A cada encontro os participantes serão convidados a entregar uma escrita que chamaremos de “resenhas de si”, a partir das discussões específicas. 

Como acontece

29/03 – Encontro 1 – SE EU FOSSE UMA CASA

Nossas ideias partem das nossas experiências e estas, por sua vez, são atravessadas pela perspectiva de que somos parte de um todo. Que todo é este? Quais são os limites no estudo contemporâneo do livro para a infância no Brasil?  Escutas e leituras: Jorge de Albuquerque Vieira; Humberto Maturana e Francisco Varella; Nelly Novaes Coelho; Prefácios Nelly; Ligia Cademartori, Heloísa Starling e Lília Schwarcz; Debora Araújo, Ramón Grosfoguel. 

12/04 – Encontro 2 – IDA E VOLTA

A linha do tempo do livro “infantil” ou, como chamamos por aqui, do livro “para a infância” no Brasil não tem uma única versão. Mas, muitos estudos por vezes nos fazem acreditar que sim e o nosso desafio é estar em estado de atenção e puxar os fios necessários para olhar para o que nos escapou. Escutas e Leituras: Nelly Novaes Coelho, Marisa Lajolo e Regina Zilberman, Fabiola Farias, Renata Nakano, Debora Araújo, Jessica Tolentino, Truduá Dorrico. 

26/04 – Encontro 3 – ONDE VIVEM OS MONSTROS

O livro ilustrado – gênero híbrido em que palavra, imagem e design narram juntos a história – chega ao Brasil com certo “atraso”. Mas estamos falando de nomenclatura ou da arte em si? Quais decisões editoriais traçaram um novo caminho para a produção literária para a infância nas últimas décadas e onde ainda precisa “se demorar” um pouco mais. Escutas e Leituras: Odilon Moraes, Augusto Massi, Mariamma Fonseca.  

10/05 – Encontro 4 – ESTE CHAPÉU NÃO É MEU! 

O boom do livro ilustrado abre as margens, mas ao mesmo tempo, cria regras e teorias. A que nos servem os limites? Quais as vantagens de saber os bastidores e intenções dos processos criativos? O que precisamos para saber “tudo” sobre o livro ilustrado? Escutas e Leituras: Sophie Van der Linden, Clara Gavilan, Aurélio de Macedo.

24/05 – Encontro 5 – LISTAS FABULOSAS parte  1 

As listas e premiações que focam ou em alguma categoria acolhem a literatura dedicada à infância tem suas particularidades. Mas será que são abrangentes à altura da produção contemporânea? Atendem a quais interesses? Partindo do material da lista dos 30 Melhores Livros da Revista Crescer, faremos um passeio por outras listas que podem ditar o conteúdo das prateleiras brasileiras. Escutas e Leituras: todas as listas da Crescer e outros levantamentos Prêmios Jabuti e Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) 

07/06 – Encontro 6 – LISTAS FABULOSAS parte 2

As listas e premiações que focam ou em alguma categoria acolhem a literatura dedicada à infância tem suas particularidades. Mas será que são abrangentes à altura da produção contemporânea? Atendem a quais interesses? Partindo do material da lista dos 30 Melhores Livros da Revista Crescer, faremos um passeio por outras listas que podem ditar o conteúdo das prateleiras brasileiras. Escutas e Leituras: todas as listas da Crescer e outros levantamentos Prêmios Jabuti e Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ)

21/06 – Encontro 7 – DA MINHA JANELA

O olhar para a diversidade é um elemento antirracista e precisa ser exercício “cotidiário”, termo do estudo da convidada deste encontro, a pesquisadora Ananda Luz. Ou é o olhar antirracista que garante a observação radical à diversidade? Quais são as lentes que temos disponíveis para o livro contemporâneo e, por mais dolorido que seja, para as leituras que já amamos antes? Escutas e leituras: Heloisa Pires Lima, Azoilda Trindade, Maria Anória, Debora Araújo, Sonia Rosa, Kiusam de Oliveira. 

05/07 – Encontro 8 – AQUI ESTAMOS NÓS

Painel do percurso coletivo e individual dos encontros anteriores e exposição das “resenhas de si”. 

Referências

ANDRUETTO, María Teresa. Por uma literatura sem adjetivos. São Paulo: Pulo do Gato, 2012. 

ARAÚJO, Débora Cristina de. Literatura infanto-juvenil e política educacional: estratégias de racialização no programa nacional de biblioteca da escola (PNBE). Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Paraná, 2015. Disponível em https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/38010

BICUDO, Francisco, MARCONI, Elisa. A dama da literatura infantil. Revista Giz, São Paulo, mar. 2015.

CADEMARTORI, Ligia. O Que é Literatura Infantil, col. Primeiros Passos. Brasiliense, 1980/2010.

CARVALHO, Cristiane Rogerio. Da palavra ao traço, da vida à morte, da não concessão à experiência: Inês e a possibilidade de encontro ético no livro ilustrado. In: Pensares em Revista, São Gonçalo-RJ, n. 9, p. 23-44, 2016.

COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira. Companhia editorial nacional, 2007. 

FELTRE, Camila. É um livro…? Mediações e Leituras Possíveis. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2017. Disponível em: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo/e-um-livro/ Acesso em 20 de mar. 2020.

FELTRE, Camila, ROGERIO, Cristiane. Livros, infâncias e materialidades: uma reflexão sobre mediação de leitura. Revista Manuscrítica, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/manuscritica/article/view/177962 

FELTRE, Camila; ROGERIO, Cristiane. Quem, O quê, Onde, Como, Quando e Por quê? Reflexões sobre memórias de leitura no percurso do formador. Anais do V Congresso Internacional de Literatura infantil e juvenil do CELLIJ, Presidente Prudente, 2020. Disponível em: http://biblioteca.acasatombada.com.br/items/show/1723 

FERREIRA, Ananda da Luz; NASCIMENTO, Bezerro Roberta (Lolla Angelucci). Por um fazer cotidiário: educação antirracista e os livros para infância. Pós-Graduação O livro para infância: processos contemporâneos de criação, mediação e circulação [TCC]. 80p. A Casa Tombada – FACCONET, São Paulo,, 2022. Disponível em: http://biblioteca.acasatombada.com.br/items/show/1798

GOLDIN, Daniel. Os Dias e os Livros – Divagações sobre a hospitalidade da leitura. São Paulo: Pulo do Gato, 2012.

GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado – Volume 31 Número 1 Janeiro/Abril 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/xpNFtGdzw4F3dpF6yZVVGgt/?format=pdf&lang=pt

LIMA, Heloisa Pires. Quando a Afro-bibliodiversidade Lê Monteiro Lobato. Revista Emília, São Paulo, 20 março 2019. Disponível em: https://emilia.org.br/quando-a-afro-bibliodiversidade-le-monteiro-lobato/. Acesso em: 11 abr. 2022.

LINDEN, Sophie Van Der. Para Ler o Livro Ilustrado. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

MARIOTTI, Humberto. Prefácio. In: MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A Árvore do Conhecimento: As bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. 

MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J.; A Árvore do Conhecimento. Tradução Jonas Pereira dos Santos. Campinas: Editorial PSY II, 1995. 

MORAES, Odilon; Rona Hanning, Mauricio Paraguassu. Traço e Prosa. São Paulo: Cosac Naify, 2012. 

NAKANO, Renata. O editor-empreendedor e a qualidade da literatura infantil brasileira. Publishnews, jun. 2016.

PERÊ, Giselda. Trajetórias formativas, a arte e a cultura negra na formação inicial e continuada de professores. Disponível em: https://sigeve.ead.unesp.br/index.php/submission/downloadFileProceedings/2167

PINHEIRO, Marta; TOLENTINO, Jéssica. A Literatura Infantil em Perigo: Políticas Públicas e o Controle da Leitura. Revista do Centro de Letras e Comunicação, Pelotas, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/cadernodeletras/article/view/19865

SALISBURY, Martin; STYLES, Morag. Livro infantil ilustrado; a arte da narrativa visual. Trad. Marcos Capano. 1ª ed. São Paulo: Rosari, 2013. 

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. Companhia das letras, 2018.

YUNES, Eliana; PONDÉ, Glória. Leitura e Leituras da Literatura Infantil. São Paulo: FTD, 1988. 

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. Global, 1982/2003.

Sobre Cristiane Rogerio

É jornalista desde 1996 e trabalhou em diversos jornais e revistas. É mestre em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP, na área de arte-educação, apresentando a pesquisa O Livro Para a Infância: coletivos e potência para a pesquisa. Hoje é colunista sobre livros para a infância na revista e site Crescer, onde já foi repórter e editora por 8 anos (de 2005 a 2013 nas áreas de educação e cultura). Na mesma revista, coordena o Prêmio Crescer 30 Melhores Livros Infantis do Ano, do qual participou desde a primeira edição, em 2006. Desde 2016 é coordenadora pedagógica do curso de pós-graduação O Livro Para a Infância: Processos contemporâneos de criação, circulação e mediação, d’ A Casa Tombada, pólo Faconnect (SP), espaço onde ministra outros cursos e coordena diversas ações pedagógicas na área do livro. Escreveu, em parceria com André Neves, o livro para a infância Carmela Caramelo (Ed. Cortez); e, pela Crescer, o livro-reportagem Bebês do Brasil. Trabalhou como tutora no programa Quem Lê Sabe Por Quê, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, voltado aos trabalhos de formação de leitura nos CEUs. Atuou e atua em diversos seminários e programas de formação da rede Sesc de São Paulo. Criou o site Esconderijos do Tempo e, em parceria com Ananda Luz e Camila Feltre, o perfil @livroparaainfancia no Instagram.