por Ananda Luz
É verdade, nenhum ser humano faz sozinho a travessia do seu tempo.
É com a frase que Elisa Lucinda fecha os agradecimentos do livro Vozes Guardadas que inicio, no desejo de compartilhar fragmentos poéticos para que possamos esperançar. Pedaços de um livro que faz parte do meu cotidiário, para não esquecer minha voz, outras vozes, para ouvir, para não endurecer.
O que dizem os tambores
Todos os tambores ecoam
Todos os tambores soam
Todos os tambores voam
seus ritmos em sua direção
Todos os tambores dizem sim
Todos os tambores vencem o não
Os tambores trazem a glória
quando o seu tocador
escrever a própria história.
Prólogo
[…]
Todo poema é um bilhete, uma carta, uma seta.
Todo poema é uma visão, um aviso, um pedido, uma conversa.
Todo poema é um sinal de perigo, socorro, promessa.
Todo poema pode ser um convite, um alfinete, um beijo, um estilete.
[…]
Escrever é um modo novo e antigo de ver,
de perceber a elaboração do pensamento sobre um sentido,
enquanto testemunha-se o imponderável do acontecimento dos fatos.
A palavra fotografa, mas não é um retrato.
Nada tem de estática, nunca mais.
[…]
Paisagens
[…]
Mas a vida é rio,
e rio que é rio
uma hora muda de curso.
[…]
As vozes guardadas da poetiza desguardam nossas vozes, grita junto com a gente, transparece nossas alegrias, desejos, dores… Elisa Lucinda nos presenteia com vida-poesia, materializando o que Audre Lorde nos contou: “Para as mulheres, então, a poesia não é luxo. É uma necessidade vital da nossa existência.”
Livro: Vozes Guardadas
Escrito por: Elisa Lucinda
Editora: Record, 2016.
Ananda Luz vive na Bahia, é educadora, mestra em Ensino e Relações Étnico-Raciais e cursa a especialização O livro para infância – processos contemporâneos de criação, circulação e mediação.