[Poemas à porta] onilíricos IV, por Tati Fraga

Definições sempre me encantaram. Não aquelas que se encerram nos dicionários, mas as que viram as palavras de ponta-cabeça, vasculham o seu passado para inventar outros futuros para elas.
onilíricos IV, por Tati Fraga

por Tati Fraga

 

IV.

 

estamos num parque urbano agachados no asfalto

de uma das vielas que entrecortam árvores de outros tempos

não há ninguém ali a não ser as antigas construções

amarelo-terrosas de um cenário que povoou lembranças

no chão craquelado de uma rua estreita repousa

um prato fundo com amoras e framboesas maduras

posta de cócoras, quase em reverência, tenho em concha

as mãos que acolhem um porco pequenino e

vermelho de um vermelho lúcido luminoso vinolento

o homem em pé tempera o animalzinho com água morna

a partir um jarro de porcelana branca

ao verter um pouco d´água, o sangue que cobre o porco

escorre e se mistura ao sangue das frutas, você vê?

por alguns segundos seu couro está limpo e claro

mas logo umedece e se encharca novamente

é um ritual ingênuo e maculado por isso não

consigo me livrar dessas memórias

por mais que eu não lhes faça caso

vivo meus dias povoada por essas noites

 

 

 

crédito das imagens:

david chan

ridd herzog

Cursos d'A Casa

[29/04/21] Descobrindo os 4 elementos da astrologia em nós – com Liliane Pellegrini e Melissa Migliori

[13/03/21] Correnteza: uma jornada de mulher em jogo – com Yohana Ciotti

[09/03/21] Educação antirracista com histórias: mitos e contos africanos e afro-brasileiros – com Giselda Perê

[09/03/21] Ateliê de voz: escuta, experiência e criação – com Renata Gelamo

[09/03/21] Escreviver – com Lúcia Castello Branco

[08/03/21] A Linha e seus papéis – com Edith Derdyk