[Poemas à porta] Inflorescências, por Natália Barros

Emily Dickinson, nasceu há quase 200 anos, nos EUA e antes de começar a escrever, cultivou um jardim na sua casa em Amerst, onde morou por toda a vida.
Inflorescências, por Natália Barros

por Natália Barros

Florir – é um Fim – casualmente

Vendo uma flor no campo

Talvez sequer perceba

A sutil Circunstância

 

Que há na Lúcida Tarefa

A tal custo cumprida

Para se abrir qual Borboleta

Ao Sol do meio-dia –

 

Encher Botão – evitar Bicho –

O Orvalho obter bem cedo –

Expor-se à Luz- fugir ao Vento –

Precaver-se da Abelha

 

E não frustrar a Natureza

       

Ser uma Flor é uma profunda

Responsabilidade –

 

                                                    Emily Dickinson – Alguns Poemas

                                                  Ed. Iluminuras – tradução: José Lira

 

 

É como se o Mar se abrisse

E nos mostrasse outro Mar

E este – outro mais – e os Três

Fossem só premonição –

 

De Períodos de outros Mares –

Por praias não visitados –

Essas também à beira de Mares não inventados –

A eternidade – são os mares que virão

 

                                                        Emily Dickinson – Loucas Noites

                                                 Ed. Disal – Tradução Isa Mara Lando

 

 

 

Emily Dickinson, nasceu há quase 200 anos, nos EUA e antes de começar a escrever, cultivou um jardim na sua casa em Amerst, onde morou por toda a vida. Lá a poeta organizou um herbário com flores e folhas que coletou desde os 14 anos de idade. Ela não fazia distinção entre arte e natureza, dizia “a natureza é a mais elevada das artes”.

 

A FLOR: Um caminho floresce quando agimos, passo a passo. O caminho fértil acontece na ação da semeadura. A flor é exata, a flor é uma razão polinizadora, uma mistura geneticamente criativa, que surge com o movimento conjugado de sépalas, ventos, insetos:  “A flor é um Fim”. A flor carrega os genes e fará de tudo para espalhar o pólen. Vem daí a história das florações espetaculares das velhas árvores, das suas flores que se fazem ainda mais maravilhosas, nos seus últimos anos de vida, para garantir a perpetuação da espécie. As velhas árvores são sábias. Se aprimoram com o tempo. Ou melhor, fazem justiça ao tempo.

 

O Mar e os Mares: Todos os nomes da natureza são próprios. Todos os nomes naturais: Mar, Botão, Orvalho, Água, estão escritos em letras capitulares, redimensionando o corpo do texto. Talvez para que a gente se lembre de dizê-los na sua forma original e singular, para que possamos nos apropriar da natureza íntima das coisas e pronunciar a vida na sua fulguração. Nas palavras iluminadas da poeta o “êxtase é viver – a simples sensação de viver já é tamanha alegria”. Porque a arte é pura vontade e invenção. Abertura de mares, floração perpétua de ondas em movimento contínuo.

 

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