por Marcelo Ariel
Em alguma prosa estará o futuro da poesia: eis, assim a poesia antiga conduz até a grega, elogio da vida livre no meio da escravidão, em busca da harmonia oculta e etc. E dos gregos chegamos ao ideal romântico: a idade média : há os beletristas, escravos do verso de XXXX até XXXXX é tudo prosa ruim rimada escrita por máquinas etéreas, joguinhos, esquemas: a glória de gerações e gerações de idiotas: há Racine, o puro, o potente, o enorme. Se tivessem soprado suas rimas, esse bobão divino seria hoje tão desconhecido quanto o verdadeiro autor de qualquer ‘origem’ ou ‘depois’ de Racine, só cinzas e bolor por mais dois mil anos. Chega! Nem jogos, nem paradoxos! Uma razão nítida nos inspira mais convicções sobre isso do que a fúria inútil dos jovens ativistas. O que sobra? Liberdade para todos poderem odiar os antigos, eis onde estamos, não há mais fundo. Eu é um outro (……………) Isso é mais do que real, assistimos ao nascimento do nosso pensamento, o eu do olho, o eu que ouve (…….) Se este velhos estúpidos não tivessem vestido no eu um falso sentido, não seria necessário varrer estes milhões de cadáveres… Tantos cegos chamando a si mesmos de autores da obra. Na Grécia ao menos, versos e liras forneciam o ritmo para a ação. Música e rimas são jogos, sonolências. O estudo do passado deles encanta os curiosos diletantes. Muitos se alegram em renovar estas velharias, foi para eles que a inteligência universal jogou suas ideias no abismo. Como era de se esperar, tais pessoas colhiam uma parte destes frutos… A ação escrevia os livros, esse é o caminho! A humanidade trabalhando em vigília: ainda não acordada ou na grande plenitude do sonhar de pé. Funcionários, escritores, autores, criadores, poetas, isso nunca existiu! A primeira lição de quem quer ser poeta é conhecer seu ser por inteiro, procurar sua alma, saber que ela deve prevalecer. É algo simples em todos os cérebros, há um desenvolvimento natural para fora dos nomes.
Íntegra da entrevista ao jornalista Matheus Pichonelli do Portal UOL sobre o centenário da Semana de Arte Moderna
– Como você avalia, hoje, o legado da Semana de 22? Acredita que tenha realmente sido um marco para a produção artística nas décadas seguintes?
Temos uma burguesia estúpida, que vê a cultura apenas como um adendo ao lucro ou propaganda para a marca de seus produtos e não como um direito social. A palavra lucro, em sua origem significa engano, logro. O maior legado da Semana de 22 talvez seja a demanda urgente por uma elite econômica culta, interessada em uma verdadeira convergência entre economia, arte e vida, capaz de movimentos cada vez mais expansivos e inclusivos de alteridade, da promoção de uma hiperinclusão através da transformação de seus milhões em bem estar e vida digna para todos.
– Você vê ecos, conscientes e inconscientes, dos ideais modernistas, de busca por uma linguagem nova e de quebra com a tradição, em seu trabalho?
Hoje podemos ver, pensar e agir dentro de outros perspectivismos, me pergunto: Como essa consciência nova das diferenças como composição de mundos e não de um único mundo que já é quase um ex-mundo, estas cosmopoéticas negras, ameríndias, feministas, das diversidades de gêneros dialogam com o ideário da Semana de 22? Mário de Andrade era gay e negro e isso precisa ser colocado em pauta! Oswald de Andrade era burguês e comunista e isso precisa ser colocado em pauta! Julieta Bárbara que teve seu livro DIA GARIMPO relançado pelo Círculo de poemas recentemente, precisa ser colocada em pauta! A Semana de 22 poderia ter sido o pólen do artivismo praticado por Jaider Esbell? Mais do que ecos, há um pensamento crítico em relação a este ideário no livro de autoria coletiva MAKUNAIMÃ O MITO ATRAVÉS DO TEMPO do qual eu e Jaider participamos e na peça-rito derivada dele TRANS MITO MAKUNAIMÃ que foi apresentada dia 19 de fevereiro às 15h no Sesc Interlagos.
– Para você, o que é ser experimental/modernista hoje? E em quais autores você identifica hoje esses traços?
Ser experimental é viver uma vida experimental e hiperinclusiva, é ser um nômade por dentro, capaz de se deslocar atenciosamente na direção das diferenças, daquilo que não é você e compõe mundos humanos e não humanos, sabedorias, oposições, amores e ontologias. Ser um nômade psíquico, um guerrilheiro psíquico. Lutar com alegria, amor e desejo para desfazer a mentira, o maior fake news de todos os tempos expresso pela frase-farsa: TEMPO É DINHEIRO! Precisamos voltar a acontecer não apenas como “cidadãos” mas como viventes dignos!
Marcelo Ariel é poeta e vivem em São Paulo.