por Josi Santos
o início
quando eu nasci
chovia
o céu
anunciava um temporal
choveu por mais sete dias
depois que adentrei ao mundo
nem de longe eu imaginava
chegar tão longe
por mais que cada vida
viesse a me reservar
adversidades
sinto que cheguei aqui
de minha barriga
não brotará prole
mas de minhas mãos
que já araram & plantaram & colheram
que trouxe vida ao mundo
e também tomou
hoje
encontra no papel e na caneta
um ofício
um tempo todo meu
escrevo poemas
porque não tenho tempo
para escrever romances
quando
são
dezoito horas
os meus olhos
não
suportam a luz
quando
são
seis horas
tenho que acordar
e comprar o
pão
na minha cabeça as narrativas se engavetam
e teimam em cruzar a fronteira
da prosa
ao verso
às vezes
paro
e fico encarando uma personagem
sentada no ponto de ônibus
um dia
perdi o busão
olhando um senhor
aguardando a lotação
parecia o marido de cicinha
moça que vi menina mulher e velha nas linhas
não tenho tempo de colocar toda essa narração na folha
me culpo no sábado
no domingo
culpo meu filho
que me toma o tempo
culpo o meu marido
que não me deixa escrever
culpo a deus
que não me deu um teto todo meu
um tempo todo meu
Mulher de palavra com palavra para a palavra pela palavra feita de palavra palavra palavra palavra. Josi Santos nasceu lá nas Minas Gerais, mas o interior da Bahia foi quem criou, de passos antigos, lá de Macarani, Portugal e Nigéria. Cata cata palavra e enfileira em fio, costura agulha dentro e fora fuxicando palavra. Curadora dos projetos @naocaleaarte e @farinhadomesmosacoba. Alguns dos seus textos podem ser encontrados no Médium @maisdesejodoquegente. Licenciada em Letras e Literaturas de língua portuguesa (UNEB) e mestranda em Literatura (UFES).