por Keila Knobel
música para acompanhar a leitura:
https://open.spotify.com/album/2aZ4yE0Z7NUNPlLpGLgrqF?highlight=spotify:track:5OsmOC5J047Qrvu59JZiaq
Preciso contar que pensei em muitas coisas para escrever sobre o livro, suas tantas camadas verbais e tantas outras visuais e táteis. Mas depois de me deixar realmente penetrar por ele e pela música que escolhi para acompanhar esta escrita, meu desejo maior foi o de sentar-me à sombra de uma árvore, fechar os olhos a absorver a vida apenas com o pulmões. Não farei isso bem agora porque também é grande a vontade de partilhar essa experiência com você.
“A árvore desperta.
Cada broto é uma saudação.
Cumprimente-os também”, disse a mãe à Shigeki san.
“Tudo nasce, tudo começa outra vez”
Assim começa uma das estações do livro “Mi caderno de haikus”, uma preciosidade tecida em muitas e muitas camadas, a começar pelo título: um livro que é um caderno. Nele, mãe e filha caminham contemplando as estações do ano. A mãe guia a filha a perceber beleza e a simplicidade dos pequenos acontecimentos da natureza, mas numa “didática” que mimetiza o próprio haikai: transcendente e intuitiva, sem opiniões ou sugestões de reflexões e análises.
Entre um trecho e outro da narrativa, haikais clássicos acompanham propostas para que o leitor observe o acontecimento das gotas de chuva na janela, das cores e movimentos de um inseto, de uma fruta. Que se entregue ao momento, liste palavras, que lhes ofereça um haikai.
Texto que se acomoda em harmonia com a ilustração delicada de colagens, aquarela, carvão e lápis de cor que convidam o olhar, sem ocupar o silêncio que faz parte da obra.
Um haikai é o acontece agora e neste momento.
Bashô
“Mi caderno de haikus” foi escrito por María José Ferrada e ilustrado por Leonor Pérez. Saiu em 2017 pela Editorial Amanuta, no Chile.