por Keila Knobel
Num tempo marcado por desesperança, pela cultura do desamor e pela palavra carcomida por mentiras, a poesia é uma porta aberta, uma pousada hospitaleira onde podemos, talvez, curar algumas feridas. Foi nessa busca de um horizonte possível que encontrei o novo livro de Arnaldo Antunes.
Como contou o autor em entrevista de lançamento, o livro foi originalmente concebido com poemas escritos até 2019, mas foi remexido e ganhou um novo im-pulso durante o primeiro ano de reclusão da pandemia. Assim, incorpora – traz ao corpo concreto, do texto e do leitor, a intensidade das experiências.
Os poemas extrapolam duplos sentidos sonoros das palavras e exploram os sentidos visuais e espaciais das composições por diferentes caminhos que o olhar do leitor na página pode encontrar e significar. Chega a ser lúdico descobrir o engenho dessas construções que desafiam sua reprodução oral.
Um livro para brincar, para pensar e sentir, para encarar o tempo, e para revisitar.
“ou você entra ou você sai
ou se concentra ou se distrai
(…)
ou você vem ou você vai
ou adiciona ou subtrai
– não dá para ficar parado aí na porta.”
algo antigo
Arnaldo Antunes
Cia das Letras
2021