por Liliana Pardini
Estar diante deste livro é como se aproximar de uma cabana de cerimônia do chá japonesa. Ou como eu imagino que seja essa experiência.
Dizem que há um jardim que a antecede, um percurso onde se pode abandonar a pressa. Há também um vaso com água, para limpar as mãos e os pensamentos. Devemos tirar os sapatos e algo mais, para chegar com espaço interno livre. A porta é pequena. Só passa o essencial.
O livro está protegido por uma luva transparente. A capa de papel claro texturizado, com pontos dourados que formam uma árvore, abre os olhos da ponta dos dedos.
Inspiro.
“Ninguém percebe uma presença tão pequena… imóvel na neve.”
O broto cresce em seu ritmo, no lento admirar do leitor, na virada de página atenciosa. Atravessa as estações, essas que chegam em palavras, cores, folhas e até na mudança de textura do papel.
Conforme a árvore fica mais alta, cresce também sua sombra. Penso que seja também como acontece conosco. Quanto mais crescemos, mais longa fica nossa porção escura.
É um espanto descobrir. O que faremos com ela? Tentar escondê-la é fugir de toda luz que provoca sombra.
“O céu se cobre de nuvens
o vento sopra tão forte que poderia quebrar os galhos
As trombas d’água preenchem a noite…
imóvel no escuro.”
Muitas primaveras passam e a árvore que era de início tão pequena a ponto de não ser notada por tudo o que era grande ao redor, se torna alta o suficiente para enxergar tudo ao redor dela.
E seu ponto de vista não para de mudar.
“As iluminações clareiam a noite”
Algo se acende dentro e nada mais é capaz de apagar.
Chegamos então ao acontecimento que provocou a feitura deste livro:
“O homem que perdeu um amigo coloca uma flor
não há nada que se possa fazer
imóvel”
Toda aquela grande presença se foi. Permanece na memória.
Como lidar com esse mistério?
Estóicos insistem que o luto é egoísta e que devemos aguentar fortes.
Há quem se agarre na crença de que algo continua.
Komagata fez A Pequena árvore.
Que termina com a semente que brota em um lugar desconhecido.
“Ela existirá para alguém
Certamente
Ainda que ninguém note uma presença tão pequena…
No início”
Reparo no título da editora criada pelo autor: One Stroke. Algo como “um golpe”? Me perdoem pela tradução livre, este livro está em japonês, inglês e francês. Espero que pelo menos o aroma deste chá eu tenha conseguido transmitir. Para mim está entre os livros diante dos quais eu inclino, digo “arigatou” e continuo minha estrada, me sentindo um tanto diferente por dentro.
Little tree / Petit arbre, Katsumi Komagata — One Stroke, Japão, 2008