por Ananda Luz
Quando contamos a história de Bragança Paulista não tem como ignorar as histórias – que por muito tempo vem sendo invisibilizada – dos Clubes Sociais Negros e toda a contribuição na formação sociocultural da cidade. Quando vamos nomeando as pessoas que fizeram/fazem essas histórias encontramos a professora e fundadora da Associação Recreativa e Cutural Afro-Brasileira/ARCAB Izilda Toledo, memória viva dessas histórias, tanto como guardiã das narrativas que ouviu dos mais velhos como das pesquisas que realizou e, também, das histórias que vivenciou.
Dona Izilda, como é conhecida, é grande educadora! Ao se encontrar com a sua história e de seus ancestrais, resolve registrar e compartilhar com tantas outras pessoas e, como ela mesmo diz ao deixar a presidência do ARCAB há seis anos, é “uma negra em movimento”. Dona Izilda traz essa fala no momento que convoca jovens negros e negras para tomar para si a sua própria história, para ocuparem o ARCAB de vida, vida vivida, vida na existência plena, vida que não permite ser invisibilizada. Tomar a ARCAB de experiência e compartilhar. Ainda porque ela, transbordante de comunitarismo – um valor muito importante para resistência e existência do povos negros na nossa história – quer um coletivo enorme e ecoante, porque junto e juntas é possível fazer muito. E isso tudo quem nos diz é a nossa história.
Um pouco dessa história está registrada no documentário Invisível – A história dos Clubes Negro de Bragança Paulista. Lançado em 2021, com direção de Mário de Almeida, o documentário apresenta para quem não conhece e rememora para quem ouviu/viveu toda a trajetória dos clubes negros, que inicialmente tinham a finalidade de alfabetizar pessoas escravizadas e com o surgimento de outros clubes, tornar-se espaço de lazer e educação para população negra da cidade. Entre muitas pessoas importantes para a materialização desses clubes está Dona Izilda, que como a advogada e Membra da ARCAB Thairine da Silva Domingo conta “A ARCAB representada na figura da dona Izilda é orientação, é cuidado, é zelo”. Porque ela, como muitas outras pessoas que estavam a frente dos clubes, tinham pressa; porque as vidas daquele momento pediam pressa, mas nunca esqueceu as vidas que estavam por vir e, além das ações nos clubes, ainda lutavam/lutam por políticas públicas e reconhecimento dessa história que é invisibilizada, como Gran Babalorixá Obá Ominila (Pau Bil de Xangô) deixa bem evidente no documentário:
“Não reclamo dos intelectuais de hoje que estão numa luta constante para relatar a história. Não, não sou contra. Eu sou contra o que foi escrito lá atrás. Então, se põe em dúvida minha oralidade eu ponho em dúvida a escrita que foi posta lá e por quem foi posta. Eu ponho! E tenho direito de pôr, porque minha identidade me diz o sofrimento que eu sofro hoje.”
Findo com a frase que abre o documentário e convido para que todos, todas e todes assistam Invísivel – A história dos Clubes Negro de Bragança Paulista.
“Nenhuma história sobrevive sem sua ancestralidade”
Ficha técnica: Documentário, 2021. Classificação: LIVRE. Duração: 52 minutos. Bragança Paulista, SP. Direção Geral, Fotografia e Edição: Mário de Almeida. Produção: Carolina Scatolino e Mário de Almeida. Produção audiovisual e Pesquisa: Maravilha Filmes. Consultoria de Conteúdo: Izilda Toledo. Som direto: Carolina Scatolino. Pesquisa de Imagens: Carolina Scatolino. Estagiária de Fotografia Cinematográfica: Emily Moura Estagiária de Produção: Paula Martins. Trilha Sonora Original: Alisson Amador.
Ananda da Luz Ferreira vive em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano. Foi aluna da turma 07 da pós-graduação O Livro Para Infância. Fez seu mestrado em Ensino e Relações Étnico-Raciais na UFSB. Atua como educadora e pesquisadora do livro para infância, das relações étnico-raciais e das infâncias.