INSCRIÇÕES ENCERRADAS PARA A TURMA DO 2º SEMESTRE/2020
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de interesse por novas turmas

 

Ponto de partida do curso

Esse curso tem como desejo olhar para a escrita no que ela possui de gesto. No que ela conserva de inscrição, de ruptura, de marca em uma superfície (que pode ser papel, tela do computador, parede, pedra, argila, corpo etc.). Produzimos notações cotidianamente. Algumas partilháveis outras não. Quando queremos dar ênfase a algo que queremos comunicar, batemos a caneta no papel repetidas vezes. São traços, linhas, riscos, espaçamentos, quebras, rasuras, setas, sulcos, desvios de rotas que também abrem caminhos de sentido, ou seja, a projeção enigmática de nosso próprio corpo, como afirmou Barthes (1976, p. 206) em direção ao outro e a nós mesmos. Gestos da escrita são gestos que emergem no próprio acontecimento da escrita, cuja finalidade não é somente a economia do verbal, do significado, mas a transposição de um corpo em movimento num conjunto de signos partilháveis.

Aqui, entraremos no terreno da escrita como experiência. Pois o gesto tem como característica o irromper com o percurso rotineiro dos movimentos e não se preocupa com uma comunicabilidade prévia. A escrita como gesto torna-se um convite a atentar aos sentidos que emergem no próprio ato da escrita, a escutar a fricção por entre as palavras, os suportes e as ferramentas. A aposta é a de que não se sai indiferente desse encontro.

Pois, quando olhamos para as narrativas acerca do que chamamos de civilização, podemos nos dar conta que a escrita não foi inventada. Foi praticada. E são muitas práticas distintas, que não nasceram em uma localidade específica. Escrever não abarca um conceito e um sistema único, linear. Trata-se uma composição entre narrativas, gestos, soluções de suportes, instrumentos, línguas, lugares e as necessidades de interação locais.

Podemos afirmar que o gesto da escrita possui um caráter de atualização, tanto para aquele que o realizou (escreve) quanto para aquele que realiza em si (lê). O gesto de escrita nos presentifica e nos evoca um dizer territorial, topológico.

Nesse curso vamos percorrer o gesto da escrita por meio de leituras, da produção de narrativas de si, partilhas de processos de criação de diferentes textualidades na busca de dar a ver o nosso próprio gesto de escrita, a partir da paisagem em que cada um está.

A aposta é no acompanhamento do gesto de cada escrita, gesto esse que se sustenta em diferentes gêneros e sem distinções entre o que chamamos de ficção e de não-ficção. Criaremos proposições e percursos de escrita com o desejo de que este fazer seja uma prática diária. Uma prática também de escuta de si e do mundo. Um trajeto que se faz fazendo.

Inspirações

Interesse por novas turmas
​COORDENAÇÃO
GERAL

Profa. Dra. Ângela Castelo Branco Teixeira e
Prof. Dr. Giuliano Tierno de Siqueira

COORDENAÇÃO DO CURSO

Profa. Dra. Ângela Castelo Branco

ASSISTENTE DE COORDENAÇÃO

Profa. Especialista Mariana Galender

jj
REGULAMENTAÇÃO

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Autorizado pelo MEC. FACONNECT – Instituição de Ensino Superior Credenciada pela Portaria MEC n° 59 de 13/01/09, pub. no D.O.U em 14/01/09

DESCONTO

Professores da rede pública têm descontos especiais

PERÍODO DE
REALIZAÇÃO

09/2020 A 08/2022 (24 MESES)

CARGA HORÁRIA TOTAL
450 horas

REALIZAÇÃO DAS AULAS
(100% online)

SEGUNDAS-FEIRAS DAS 19H ÀS 21H.
SÁBADOS (UMA VEZ POR MÊS) DAS 10H ÀS 12H.

Entrevistas online
(a confirmar)

Matrículas online
até 08 de setembro de 2020

INÍCIO DAS AULAS
14 DE SETEMBRO DE 2020

CONTATOS

e-mail: pos@acasatombada.com
WhatsApp: (11) 96362-7762

“O ‘Querer-Escrever’ = atitude, pulsão, desejo, não sei bem: mal estudado, mal definido, mal situado. Isso está bem sugerido pelo facto de não existir, na língua, uma palavra para esse ‘desejo’ — ou então, excepção saborosa, existe uma, mas no baixo latim decadente: scripture.” (Barthes, A Preparação do Romance, 2005, p.16)

“Gostaria de escapar desta atividade fechada, solene, redobrada sobre si mesma, que é, para mim, a atividade de colocar palavras no papel. […]” (Foucault, in: Eu sou um pirotécnico (entrevistas), 2006, p. 81)

“Eu gostaria que ela [a escrita] fosse um algo que passa, que é jogado assim, que se escreve num canto de mesa, que se dá, que circula, que poderia ter sido um panfleto, um cartaz, um fragmento de filme, um discurso público, qualquer coisa…”
(Foucault, 2006, p. 81)

“Desprender-se do eu autobiográfico, alienado no ideal, o eu virtual e pré narrado pelo rebanho, para tornar-se integralmente o espírito da virtude que me atravessa. Deves tornar-te o pássaro, a ave estranha que te habita e trazê-la ao mundo sem cálculo e sem negociação – esse é o imperativo da ética da dádiva, o chamado para que o miolo da alcachofra se torne pele. Mas como é que se interrompe a avalanche autobiográfica e fictícia do eu? Como é que se dá o acesso a essa alteridades chamada si-mesmo? E a resposta é: pela emergência do corpo. Pelos acontecimentos que toam e fisgam um corpo exposto. Ali onde alguém é tocado e atravessado para além de todo e qualquer funcionamento racional, ali onde um espinho cortou a carne e onde uma questão insiste em forma-de-ferida, ali é o lugar onde o “eu” deve mergulhar e deixar-se desmanchar.” (Juliano Pessanha, Instabilidade Perpétua, p. 66-67)

 

“O domínio do escritor não está na mão que escreve, essa mão “doente” que nunca solta o lápis que não pode soltá-lo, pois o que segura, não o segura realmente, o que segura pertence à sombra e ela própria é uma sombra. O domínio é sempre obra da outra mão, daquela que não escreve, capaz de intervir no momento adequado, de apoderar-se do lápis e de o afastar. Portanto, o domínio consiste no poder de parar de escrever, de interromper o que se escreve, exprimindo os seus direitos e sua acuidade decisiva no instante.” (Blanchot, O espaço literário, 2011, p.16)

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“É a mesma coisa que gaguejar, mas estando gago da linguagem e não simplesmente da fala. Ser um estrangeiro, mas em sua própria língua, e não simplesmente como alguém que fala uma outra língua, diferente da sua. Ser bilíngue, multilíngue, mas em uma só e mesma língua, sem nem mesmo dialeto ou patuá.”
(Deleuze; Guattari, 1995, p. 42-43)

“Quando fico certo tempo sem anotar, sem sacar minha caderneta, tenho um sentimento de frustração, de secura.” (Barthes, in: A escrita memória dos homens, de Georges Jean, p. 186)

“O fragmento tem essa característica: obriga o relevante a aparecer logo, a não ser adiado. O fragmento acelera a linguagem, acelera o pensamento. Estamos pois no âmbito dos nascimentos: o fragmento é um mecanismo de parto; de início, de começo; clínica, usemos esta palavra- eis o que é o fragmento: espaço privilegiado, especializado- clínica de nascimentos.” (Gonçalo Tavares, in: João Barrento, O Império dos Fragmentos, 2015, p. 26)

“O texto é um lugar que viaja.
 (Llansol, 2011, p.126)

“Vejamos aonde nos leva a escrita.”
(Llansol, 2003, p. 238)

“[…] meus livros são, para mim, experiências, em um sentido que gostaria o mais pleno possível. Uma experiência é qualquer coisa de que se sai transformado. Se eu tivesse de escrever um livro para comunicar o que já penso, antes de começar a escrevê-lo, não teria jamais a coragem de empreendê-lo. […] Sou um experimentador no sentido em que escrevo para mudar a mim mesmo e não mais pensar na mesma coisa de antes.:
(FOUCAULT, 2010a, p. 289-290)

“Escrever é tentar saber aquilo que se escreveria se fôssemos escrever- só se pode saber depois- antes, é a pergunta mais perigosa que se pode fazer.”
(Marguerite Duras, 1994)