Página, capa, cores, desenhos, frases. Para o renomado autor de livros ilustrados Odilon Moraes é a combinação perfeita entre os tantos elementos que compõem os livros que provoca uma leitura prazerosa. Ou melhor, fascinante.
Por Ana Carolina Carvalho*
Odilon Moraes é desses nomes da literatura para a infância e do livro ilustrado que dispensa apresentações. Ainda mais n’A Casa Tombada. Era justamente lá que ele estava na noite quente da última terça-feira: participava da 1a edição do Ciclo de Encontros – Como nasce o desejo de ler, promovido pela coordenação do curso de pós-graduação O livro para a infância, d’A Casa. Odilon Moraes está acostumado com a movimentação e o acolhimento que acontece ali: professor da disciplina A relação Palavra e Imagem da pós-graduação, logo ele se sentiu à vontade para papear sobre o que lhe tem rendido prêmios e elogios dos mais diferenciados leitores. O delicioso e provocador universo dos livros ilustrados. Mais, o papel que tais obras têm no desejo de ler.
Logo na abertura do encontro, Odilon resgatou a sua história com o livro ilustrado. Primeiro, ela faz nascer o leitor. “Eu tento pensar como a autoria do livro ilustrado entrou na minha vida. Meu pai tinha uma pequena biblioteca e havia duas coleções que se encontravam: a Gênios da Pintura, uma coleção de banca que muita gente tinha e eu me deliciava lendo cada fascículo, descobrindo cada movimento, entendendo a história da pintura. Do outro lado, tinha uma coleção de Mitologia Grega ilustrada. Eu morria de vontade de saber o que se passava dentro daqueles livros.”
“O livro ilustrado é poesia. Antes, nesses livros, a imagem era usada como apoio da palavra. Atualmente, uma tira o apoio da outra e há um espaço de desencontro maravilhoso no qual se pode criar.”
E foi no folhear curioso das duas coleções que Odilon começou a traçar a sua relação tão particular com o significado das palavras e das imagens. “Eu via as pinturas mitológicas e ia no dicionário de Mitologia Grega para encontrar as histórias delas. E também acontecia o contrário: lendo as histórias, tinha uma sem imagem. Eu corria do outro lado, procurando imagem. Foi esse prazer do encontro das palavras com as imagens que me tornou leitor.”
Pronto, aquele ir e vir de livros transformou Odilon em ilustrador renomado e pesquisador do tema. Em cada obra sua, palavra e imagem ganham força, sensibilidade, significado, cores, traços e personalidade que só fazem sentido juntos. Como ele mesmo gosta de afirmar. “O livro ilustrado é poesia. Antes, nesses livros, a imagem era usada como apoio da palavra. Atualmente, uma tira o apoio da outra e há um espaço de desencontro maravilhoso no qual se pode criar.”
Mas não são apenas a palavra e a imagem que tanto apaixonam no livro ilustrado e fazem brotar ali um desejo de ler cada vez maior. Odilon Moraes fala sobre a materialidade do próprio objeto livro e o quanto ela é marcante em cada obra, explica o papel da costura e a sua capacidade de criar tempo na narrativa, comenta sobre o virar de cada página fazendo história que não pode ser contada pela metade, diz sobre as possibilidades de união e desunião entre palavras e imagens que convidam a uma leitura diferente. “O leitor alinhava as narrativas para que o livro aconteça: palavra e imagem se revezam para contar uma história. Há leitura do conteúdo e da forma ao mesmo tempo. Essas tensões, em cima das quais o livro é estruturado, são um encanto do ponto de vista do desejo de ler.”
É nesse encantamento, que faz os olhos de Odilon Moraes sorrirem sempre, que o público mergulha quando o autor mostra suas obras mais recentes. Ele lê
Lulu e o urso (feito em parceria com a mulher, Carolina Moreyra, da Pequena Zahar, lançado no mês passado) e a cada página explica a proposta tão bem casada entre palavras, imagens e ritmo. “É um jogo, uma dança entre a palavra e a imagem. É uma leitura diferente e é o prazer de entender como essa leitura é construída que me fascina.” Depois, ele mostra Casa de passarinho (com Ana Rosa Costa, da Editora Positivo) e Bichos da noite (com Mariana Ianelli, da Editora Positivo). Tudo faz sentido para a plateia: os traços dos passarinhos, as frases curtas e sutis, as cores dos bichos da noite, a menina que tem medo, a rotina tão delicada em um ninho revelam que a leitura de um livro ilustrado, ainda que rápida (talvez por causa das poucas páginas ou da pouca quantidade de texto), é profunda, tem várias camadas. Alguém da plateia comenta sobre a profundidade da obra Olavo (Jujuba) e o quanto ela mexe com leitor logo ao se ler a primeira frase: “Olavo era um menino triste”. Outra pessoa lembra de Rosa (Editora Olho de Vidro) e sua força inspirada em Guimarães Rosa. Mas não são nessas inúmeras sutilezas e provocações que nos tocam que nasce o desejo de ler?
O ciclo continua até 30 de outubro! As inscrições estão em nosso site e mais informações, neste link: http://acasatombada.com.br/ciclo-de-encontros-como-nasce-o-desejo-de-ler/. Se não puderem vir, acompanhem aqui, em nosso blog, e fiquem de olho em nossas redes que teremos mais notícias sobre os encontros!
* Ana Carolina Carvalho é jornalista há mais de 20 anos, mãe de de dois meninos e aluna do curso de pós-graduação O livro para a infância desde fevereiro deste ano.