[A voz d’A Casa] Como prática de risco, por Ângela Castelo Branco

Já era agora da escrita entrar n'A Casa e, com ela, formarem um duplo de terreno fértil e mãos. Se para isso for preciso quebrar cimento, arrancar os pisos laminados, puxar os tapetes, soltar os carpetes e a grama sintética, faremos.
Como prática de risco, por Ângela Castelo Branco

por Ângela Castelo Branco

 

falta pouco, nada falta. o texto começa.

você poderia  ficar aí escrevendo, cair escrevendo, nadar escrevendo

ler palavras da grama, sentir texto na pele da árvore

cantar mancha branca da mancha preta

 

você poderia esfarrapar corpo na cama e imprimir palavras lençol

você poderia entregar-se livro do mesmo modo que ama

 

inevitavelmente- você apaga, volta, começa a achar que está morrendo demais

recorre à cópia, repete para não esquecer

você o próprio esquecimento

todos os seus olhos estão voltados para o prazer traço, sulco, fecundo que as letras te trazem

te traem

 

um cão late, o lobo dobrou a noite, o cordeiro está na história

mãos que escrevem são as que desenham

de liso, só o papel antes a ser tocado

se for pra gastar-se pouco a pouco,

que seja entre línguas

 

(por)

 

verbos corpo que vão virando nomes

nomes vão virando verbos corpo

 

 

 

 

edição: Mariana Galender

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