por Telma Braga
Quando você tiver nas mãos o livro Menina Pretinha, Menino Pretinho, de Kiusam de Oliveira, com ilustrações de Carol Fernandes e Rodrigo Andrade, trate de segurar firme contra o peito. Ele tem asinhas e sabe voar!
Nos delicados tons pastéis, em que predominam o rosa para o menino e o amarelo para a menina, o livro foge do óbvio, desconstrói e reconstrói nosso olhar para as infâncias. Todas elas, diversas, belas, especiais, aladas. Não vou te contar tudo, afinal, você tem que procurar os detalhes. Cadê? Achou…!
Com um texto ritmado e lúdico, ideal para bebês e bem miúdos, a edição da Original Leiturinha, traz até um QR code para canções do livro. Mas a leitura pode começar de qualquer lado: do lado da menina ou do lado do menino. No meio, o sonho, país onde tudo é possível e onde as ilustrações dos artistas se encontram. Ao folhear o livro, páginas se desdobram, e não é a história que desdobram. É o Tempo.
Menina Pretinha, Menino Pretinho não fala de ancestralidade. Fala de asinhas.
Não fala de tambores africanos. Fala de asinhas.
Não fala de tradições. Fala de asinhas.
Mas asinhas falam de tudo e muito mais.
Não seria esse pequeno livro uma linda metáfora da Linebeiju, modo como Kiusam classifica sua literatura: Literatura Negro-Brasileira de Encantamento Infantil e Juvenil? Uma literatura que “cura feridas psíquicas em crianças e jovens negros” e lhes dá asas para voar?
Todas as crianças pretas cabem nele, pelo simples fato de serem crianças. Aliás, crianças de todas as cores cabem nele. Eu me vi nele. Eu criei asas e voei.
Menina Pretinha, Menino Pretinho
Texto: Kiusam de oliveira
Ilustrações de Carol Fernandes e Rodrigo Andrade
Editora: Original Leiturinha, 2022
Telma Braga é filha de Seu João, contador de causos, e de Dona Lydinha, contadora da vida.
Professora, contadora de histórias, escritora.
Pós-graduanda d’A Casa Tombada nos cursos O Livro para a infância e Narração artística.
Mestre em Língua e Literatura Francesa pela UFRJ.
Aluna especial no PPGCEN -UNB, aspirante ao Doutorado em Artes Cênicas.
Mas principalmente conversadora, escutadora de passarinhos e abraçadora de árvores.
Apaixonada por dar aulas, cantar, viajar, escrever, ler, brincar e tomar café com os amigos, nem sempre nessa ordem.
Já ministrei várias oficinas de poesia para crianças, jovens e professores.
Costumo dizer como Riobaldo: “quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”
Contato: @telmaalmeidabraga
Aquarela de Meire de Oliveira. (@aquarelistameire)