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Semear
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Documento
Metadados
Título
Semear
Autor
Natalia Pineiro Bressan Dutra
Colaborador
A Casa Tombada
Descrição
O tempo passa e a gente quer segurá-lo sempre mais um pouquinho. A gente quer que ele entre em suspensão, a gente quer dobrar a quantidade de horas que cabem no dia, para dar aquela sensação de que estamos vivendo mais ele. O tempo que se inicia e o tempo que se encerra. Dentro desse intervalo: tudo o mundo inteiro. E, nesse intervalo, nesse meio do caminho, tudo é possível: a criação de um trabalho, a elaboração de uma ideia, a criação de uma vida. Mas como viver esse meio do caminho? Como se permitir transformar e ser transformado por essa potência de tempo e espaço? Será que é por chegar perto do fim desse caminho que esse texto se tornou tão difícil de escrever? Na escrita me elaboro, na escrita me visito e na escrita me refaço. Na presente escrita, depois de muitos descaminhos, depois de muitas dúvidas, depois de muitas voltas em mim mesma, resolvi seguir por um caminho de relato pessoal. Um relato de viajante apaixonado pelo percurso que acaba de viver, não tendo ainda sedimentado o que viveu para conseguir analisar de maneira objetiva o ocorrido. Nesse momento, me parece impossível uma escrita em terceira pessoa, em que fica claro qual o objeto analisado, refletido e suas conclusões. Ainda preciso de mais um pouco de tempo para construir este chão. Agora há pouco disse sobre fim, mas a verdade é que sinto que ainda não é o fim, sinto que o final institucional da pós-graduação é só um final burocrático, porque de fato as ideias e ações que surgiram dela, e foram alimentadas por ela, ainda estão em ebulição, ainda estão surgindo. Sinto-me diferente de quando entrei nessa rota, e preciso entender que eu me somei. E, como prova disso, quando entrei na pós-graduação, meu foco estava quase que inteiro na educação formal, mesmo desgostosa do que estava vivenciando, pois buscava, em minha prática e reflexão, respiros poéticos e flexíveis dentro da instituição escola. Eu estava certa que meu trabalho final seria nesse sentido, pensando em esboçar uma maneira de educação para a liberdade. Ainda é um grande ponto pra mim, mas perdeu o foco no percurso final das vivências. Depois, eu estava certa de escrever sobre Fenomenologia, do ponto de vista de Sartre e sua tradição, quando novamente me encantei com uma etapa do trabalho plástico, que não havia sido prevista e que fez com que tudo mudasse. De fato Sartre, Husserl e Merleau Ponty, Deleuze, Guatarri e Suely Rolnik estão me acompanhando, sem esquecer também de quem me acompanha com mais força do que os outros, mas sem peso algum, Manoel de Barros. Mas ao invés de falar sobre esses teóricos que me sustentam, e sobre suas filosofias, farei um relato sobre o que vivenciei enquanto experiência poética a partir das proposições da pós-graduação. Portanto, o meu objeto de análise é meu próprio percurso, contaminado pelas proposições oferecidas durante os encontros da pós-graduação. E a construção do presente texto se dá muito como uma conversa comigo mesma em meu processo de elaboração e produção de conhecimento no campo da poética. Talvez fique raso, talvez fique inadequado para o final da pós, mas é o jeito que a escrita foi convocada.
Data
2018
Idioma
Bibliografia
BARROS, Manoel de. Biblioteca Manoel de Barro. São Paulo: Editoa Leya, 2013. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Editora G. Gili, 2013. DELEUZE, Gilles e GUATARRI, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante - Cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. ROLNIK, Suely. Cartografia Sentimental. Transformações Contemporâneas do Desejo. Editora: Sulina; Edição: 2 (1 de janeiro de 2014)
Editor
Editado por Fernando