Descrição
Aqui, mais que apenas códigos escritos e impressos para serem documentados, palavras além das letras e de seus significados. Neste texto, há confluência das observações, projeções e vivências da mulher que escreve, e tinha que ser assim: escrevendo. As reflexões de “uma mulher inconformada com a realidade, que encontrou no poder das palavras o refúgio do mundo, a renúncia aos silêncios e a descoberta de sua força” na teimosia de sua existência se faz presente no mundo quando escreve e inscreve sua voz por meio das linhas e entrelinhas de seus escritos. Ela não anda só, NÃO anda só! Segue, retomando as heranças ancestrais, recordando as que já se foram, inspirando-se nas negras-vozes vivas das mulheres que resistem pela escrita e impulsiona a caminhada das que não param de surgir. Já avisa que o processo será conduzido por diversos transbordamentos. Afinal, tudo seguirá o curso das águas que fluem na função de salvaguardar a escrita enquanto latência que brota e pulsa vida. Águas que brotam diretamente de úteros e corações de mulheres negras que empunham palavras já cansadas de viverem presas na goela, palavras com gosto do suor das vivências diárias, árduas palavras daquelas que têm fome de justiça e ânsia por serem ouvidas. Águas essas que também brotam de nosso pronto e banham nossos escritos, narrados, cantados, sambados ou sussurrados em cantigas: enredos de lágrimas. Nós, feitas por tantos nós, às vezes, temos somente as palavras para dar conta dos pensamentos e dores, unindo tudo em um mutirão de gritos. Se preciso for, seguiremos assim, ecoando o som deles aos quatro ventos: estamos em bando, na missão de verter a ordem e na recusa de sucumbir. Palavra nomeia e já não queremos os nomes que nos dão, queremos recriar as representações feitas para nos descrever. Queremos o protagonismo de nossas vozes por meio de nossas próprias palavras, afinal, não são quaisquer palavras, são palavras-luta, palavras-demarcação de territórios.