Algumas histórias antigas têm a capacidade de descrever tão bem os humanos, seus feitos e suas paixões que poderiam muito bem se passar nos dias atuais. Assim é o mito de Diana e Ácteon, das Metamorfoses, de Ovídio (séc. I a.C. – I d.C.), escrito durante o Império de Augusto e incrivelmente atual na era das redes sociais com sua descrição da invasão da privacidade e do excesso de exposição. Partindo dessa ideia, criar uma narrativa oral para inserir o mito (como narrado em Ovídio) na contemporaineidade exige que adaptações linguísticas e estilísticas sejam feitas, além do enfrentamento da tradição que demanda que essas histórias sejam apresentados como são encontradas nos textos “originais” (ainda que não se saiba exatamente como eram esses textos) e a necessidade do contador/a assumir- se como autor do novo discurso narrado oralmente. Ao estudar essas questões que envolveram o processo de reconto do mito inserido na contemporaneidade, pudemos analisar as questões de linguagem em sua materialidade (a fala e a escrita), as relações de gêneros e intertextualidade que envolvem as narrativas escrita e oral, as relações entre contemporaneidade, História e mito, além da importância e do porquê de contarmos e como construímos realidades narrativas (ou não) por meio das palavras. Além disso, nos debruçamos nas relações entre autoria e coautoria da narrativa e quais escolhas pessoais e éticas estão envoltas no fazer do contador.