Literatura para crianças ou para infâncias?

Descrição

Literatura para crianças ou para infâncias? Crianças sempre existiram. Mesmo antes de nos perguntarmos sobre o ovo ou a galinha, ainda assim seria possível admitir que crianças sempre existiram. Não só porque elas iniciam a primeira etapa da vida, mas porque são porosas e, ao mesmo tempo, tão perenes. Há a força vital da primeira experiência, da descoberta, da divagação – e também do sentar direito, não comer rápido, olhar para os dois lados antes de atravessar – espaço de ser criança, não necessariamente de estar na infância. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, todos entendem o que é uma criança. Nas mais diversas sociedades existentes, lá estará uma para colocar em xeque o ciclo das tradições, ainda que o período de duração desse sujeito varie de acordo com as características locais e leve em conta aspectos biológicos, culturais, cognitivos e econômicos. Ou seja, o processo de autonomia adquirido ou incumbido. Uma determinada etnia indígena não calcula a existência em anos, mas em tamanho e força, e indicam a idade com um espaço entre a mão e o chão. Em várias sociedades ocidentais os indícios da puberdade empurram a criança para a adolescência. Já em outra, no oriente médio, sua força produtiva, de gerar renda econômica, basta para decretar fim ao momento da brincadeira e descompromisso. Das possibilidades da origem da palavra “criança” aparecem: criar + -ança “indivíduo na infância, filho”; creantìa “criação”, “cria”. Na maioria das sociedades, a criança não é um sujeito, nem portadora de voz/fala, nem de direitos no exercício prático da vida. Isso acentua o paradoxo contemporâneo por um lado, quando sistematiza as variáveis inerentes de seu processo de formação acerca da autonomia e da cidadania. Ao passo em que cerceia sua liberdade, condiciona sua forma de brincar e consumir e institucionaliza o lúdico e a educação.