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Habitar-se de: Relato de experiências de um ser em estado de experiência
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Documento
Metadados
Título
Habitar-se de: Relato de experiências de um ser em estado de experiência
Autor
Lea Maria de Moraes
Colaborador
A Casa Tombada
Descrição
Percebo que escrever sobre a Pós-Graduação “Caminhada como método para a arte e educação” rompe com o tempo cronológico dos dias e das horas, para uma imersão nos tempos da memória, na tentativa de apreender cada instante que, por sua intensidade, me moveu, me modificou. Busco aqui, registrar o que passou a habitar meu ser durante essa experiência e me transformou, me atravessou na travessia. Aqui, nesse lugar, segue o relato amoroso e, também, consciente de uma experiência vivida ao longo de 18 meses de caminhada tendo como chão a arte e a educação e, como paisagem, o conhecimento compartilhado, comungado e vivido em territórios como a escrita, o saber, a existência, a cultura, a arte, a educação e a vida. Penso que subvertemos os tempos verbais que orientam nossa compreensão ao buscar expressar o que nos passa e não o que passa. Na caminhada, o horizonte aponta sempre o devir, alojado no território da percepção, do sentir, do caminhar e do caminhante. Só posso falar com experiência daquilo que vivi ou vivo, daquilo que me aconteceu ou acontece, daquilo que me arrebatou e arrebata. Nesse transcurso do tempo e das experiências n’A Casa Tombada, percebi e permiti que meu ser fosse habitado pelo outro, pelos outros, seja pela forma de construir conhecimento ou mesmo nos encontros fortuitos ou planejados de cada ciclo. No verbo habitar, encontro formas possíveis para falar de um corpo, em seu estado físico ou mental, que entregue ao processo, percebe-se completamente habitado pela experiência. Ser habitada em estado de corpo, nessa caminhada foi a descoberta de um olhar de caminhante, mirando a paisagem, tendo todo o corpo e pensamento a absorver o entorno, o dentro e o fora. Habitar-se durante o ato de caminhar foi permitir impregnar-me, alimentar-me, sentir... Trocar de olhos ao olhar a paisagem, e sobre paisagens já visitadas, refletidas e anunciadas, colocar o olhar em camada dupla com o que se anunciava. Escrever sobre a experiência é conectar-me às ancestralidades, nesse gesto atávico de vida: o caminhar aonde, indo e vindo, nos encontramos, nos reconhecemos e existimos. Este relato é tentativa de transcrever e registrar momentos de atravessamentos e experiências que passaram a existir em mim, transformando e preparando esse corpo-morada, que não é fixo, mas cheio de novos espaços e vãos, para um conhecimento em constante assimilação, e que, assim como o caminho (que se faz ao caminhar), vive e tenta absorver tais processos de transformação, seja pela paisagem seja pelo caminhante em movimento, nessa travessia de vida que se faz da aurora até o luar de todos os dias.
Data
2018
Idioma
Bibliografia
LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre experiência, 1 ed. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2014. COVERLEY, Merlin. A are de caminhar; o escritor como caminhante, São Paulo, Martins Fontes, 2014 BACHELARD, Gaston. A poética do espaço, Coleção Tópicos. São Paulo, Martins Fontes, 1993. MAFFESOLI, Michel. Sobre o nomadismo, Rio de Janeiro, Editora Record, 2011. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética; prefácio de Paola Bernestein Jaques. São Paulo, Editora G. Gili, 2013. BOURRIAUD, Nicola. Estética Relacional. São Paulo, Martins Fontes, 2009. DUCHAMP, Ato criador, PDF CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo, Martins, 2005. HEIDEGGER, M. La esencia del habla. In: De caminho al habla. Barcelona: Serbal, 1987. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção, 2 ed. São Paulo, Martins Fontes, 1999. CALVINO, Ìtalo. Palomar, PDF CERTEAU, Michel de. L’Invencionduquotidien, Paris, Gallimard, 1990. OSTROWER, Fayga. Universos da arte; Revisão técnica Noni Ostrower, 1 ed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013.
Editor
Editado por Fernando