Nasci nos anos 50 do século XX , neta e filha de pintores italianos que vieram para o Brasil pintar igrejas. Parte da minha infância aconteceu olhando a história da arte nos livros de meu pai sobre a mesa do atelier. Cresci e me formei acreditando no oficio do artista. Caminhar em busca de uma linguagem pessoal e singular, que dê significado à vida e que se revele no processo criativo. É resistência entre o eu e os outros e acaba por ser um depoimento afetivo em busca de certa transcendência. Durante os últimos 30 anos criei raízes _ a casa, duas filhas, a descoberta de exercer minha vocação _ vida e trabalho misturados, uma coisa única. As questões, no processo da obra, aparecem a partir da vivência e são expressas não em termos biográficos, mas como substancialização do que a vida causa em mim. Quando uma criança vive uma desestruturação de sua família, abre-se uma fenda/matriz que fica impressa e tenta-se preenche-la para o resto da vida. A obra brota nas entrelinhas e , nutrida, pouco a pouco germina, cria corpo e se multiplica. As mãos tecem a malha do caminho. Elas materializam os desdobramentos que brotam da linguagem. Acabo construindo obras que exigem um esforço físico, que desgastam e atacam o material e são violentas na ação; são uma polaridade entre a ternura e a violência que há dentro de nós. A experiência da gravura estruturou todo o meu fazer posterior e me mostrou que a resistência dos materiais que escolhemos nos revela nosso caráter. Desse processo recorrente (1996 - 2006) saíram as séries silenciosas e ouriças, (instalação realizada na Estação Pinacoteca de São Paulo em 2005) trabalhos feitos em chapas de acrílico gravadas, furadas e penetradas por fios metálicos e plásticos que exigem bastante tempo para sua elaboração. O tempo de experimentação e feitura da obra, gera uma intimidade que possibilita intuir e aprender o traçado possível em cada material.
BACHELARD, Gaston. a terr a e os devaneios da vontade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. SHEPHERARD, Paul. The cultivated wilderness: or, what is landscape? Massachusetts: Mit press, 1997. Autor desconhecido. Caderno de anotações pessoal. Nucio Ordinii. a utilidade do inútil, um manifesto editora Zahar, 2016 Byung Chul Han Louise Bourgeois. Destruição do pai reconstrução do pai São Paulo: Cosac & Naify, 2000.