Descrição
A costura é o meu caminhar. Mais que um ato de unir peças por meio de um fio, a costura conta algo sobre nós, diz sobre nossos lugares guardados e amados, diz também sobre nossa passagem e nosso estado. Cada agulhada impingida ao tecido une os percursos de nossas tramas. Cada corte ou recorte é uma nova oportunidade de caminho. O alinhavo variado – modelado pelo ir e vir do avanço e recuo, de emendas e remendo, da cadência do passo da agulha, como os nossos pés fincam o chão – formatiza nossa tessitura: um eterno ir e vir. Não houve uma escolha durante este percurso da pós: a costura, que é meu quintal, naturalmente se fez presente. Ainda menina, sentada no assoalho do chão, junto à minha mãe e cercada por restos de linhas, eu conheci os primeiros pontos. Ali, dentro desse estar junto, entre linhas, tesouras e tecidos, a ternura da minha mãe despejava-se sobre mim, e eu me sentia protegida. Assim, sentindo - como quem recebeu os mais importantes ensinamentos -, guardei comigo aquele momento de afeto. Os guardados, os mais caros momentos dos tempos passados, são hoje as forças protetoras que fluem naturalmente enquanto eu costuro.