por Ju Tolentino
Ventania
Quando escrevo
[poeticamente]
Não necessito pedir permissão
Meu corpo se despe
[metaforicamente]
Em versos
Mas são tanto os dedos opiniões olhares
Que até hoje não consigo dizer
se tirei aquele tempo para mim
pela primeira vez.
Tarde de domingo
daquelas que não dá para aguentar
o tédio, a ressaca (moral)
Corro pro mar.
Me vejo na imensidão.
Ela se confunde e bate de frente
com a suposta pequenez que insiste em me acompanhar:
– Eu não pertenço a você!
– Tomei posse da palavra!
Todos os dias tenho que relembrar
Feito
um
mantra.
Tomo um café.
Impressionante a capacidade da minha mente em
tran-si-tar.
Quando, me encherei de orgulho?
Trincheira
Sujeita de fronteira
não estou em cima do muro
não dou conta das ambiguidades
não é uma simples soma de partes.
Sujeita de fronteira
a minha raiz é na encruzilhada
não quer dizer que não tenho pátria
só me desprendo de respostas dicotomizadas.
Sujeita de fronteira
complexa, inovadora, imprevisível
o que eu falo parece sem sentido
mas tem um bonde por aí, comigo.
Sujeita na fronteira
Audre, Conceição, Gloria, Lélia
rostos cobertos
vozes sufocadas
resgatamos seus escritos
e hoje ecoam seus gritos.
Sujeita na fronteira
viajante entre mundos
escrevo, grito, danço, pixo
sem me preocupar com a forma
só quero que a mensagem
toca.
Verde
Hoje, tenho um encontro com meu próprio tempo
E eu prometo tentar traçar outros roteiros
Aos que esperam um encaixe acrítico aos seus anseios
Desejo paciência
De verde, eu curto as plantas, os tecidos, as paletas
Por aqui, maturar sempre foi um guia
Não é à toa ser taurina, parecer preguiça
Algumas respostas vivem nas frestas
E eu confesso ter tido longas conversas com elas
Antes, o sentimento era de uma culpa enorme
“Vai, menina, corre
Corre
Corre!”
De quê? Até quando? Pra onde?
Daqui, sempre vivi escondida
Agora, tantas camadas para serem remexidas…
Paciência!
De verde, curto a sorte, espada de São Jorge
Processos…
Comigo, ninguém pode
.
Olá, eu sou a Juliana Tolentino, poeta, pesquisadora e professora de sociologia.
Faço um bocado de coisas, dentre elas, saraus, rodas de conversas e oficinas sobre questões raciais, classe, gênero, sexualidade e literatura negra.
Costumo dizer que meus escritos navegam por algumas margens: ~ autoconhecimento ~ ancestralidades ~ afetos ~ questões sociais.
A depender do momento, beira mais pr’um lado do que pro outro. Ou então, se banha em tudo. Afinal de contas, somos inundadas por uma imensidão de acontecimentos.
Pra conhecer mais sobre o meu trabalho, só acessar: https://linktr.ee/julianatolentino