por Kaká Werá
Na filosofia do meu povo, de tradição tapuia, diz-se que duas forças: wak-miê e kat-miê, são responsáveis pela vida no mundo. A primeira é atividade ou objetividade; representada pelo sol. A segunda é inatividade ou subjetividade; representada pela lua. Nos mitos de origem, estas forças são personificadas como os arquétipos dos primeiros ancestrais, aqueles que põem a vida em movimento enquanto energia.
A etimologia da palavra energia, que vem da língua grega – energeia – significa força em ação. Na física mecânica representa uma qualidade capaz de pôr algo em fluxo; sendo que as formas mais reconhecidas são: hidráulica, eólica, gás, solar, nuclear, biomassa e através da combustão do carvão.
Se observarmos com cuidado veremos as forças da natureza presentes em todo este processo: a terra, a água, o ar, o fogo. São eles que põem em movimento os átomos, as moléculas, as células, os órgãos e o organismo. Dessa maneira podemos também reconhecer como a ciência e a sabedoria ancestral podem nos auxiliar no entendimento do elo entre a vida material e a vida imaterial.
Quando dizemos: “precisamos cuidar da nossa energia”, ou mesmo “economizar energia”; consequentemente cuidamos de tudo que nos cerca dentro e fora de nós. Desperdiçar energia é desequilibrar todo um organismo que está além de nós
Energia é algo realizando um trabalho. De onde ela vem? Como ela surge? Quando emerge?
Do repouso surge a ação. Portanto, temos que cuidar também da não ação. Aquilo que antecede o movimento de um pensamento, de uma emoção, de um gesto. Temos que sair do condicionamento de gerar energia a partir da reação e aprender a gerar energia a partir da não ação.
O silêncio é a atitude que nos permite aprender a gerar atos não reativos. Nos permite zelar mais pela energia que emitimos para nós mesmos e para o mundo à nossa volta.
A contemplação também dá suporte a este mistério da não ação que produz a energia. Se ainda não podemos compreendê-la, cabe pelo menos cultivá-la no sentido de dar a devida atenção e cuidado para este espaço em nossa vida diária.
Existe outro aspecto a ser observado que é a qualidade daquilo que pensamos, pois isto determina o rumo da energia e vai refletir no modo como a realidade irá se apresentar a nós. Ou será reativa ou será fruto de serenidades reflexivas e contemplativas.
As forças da natureza, do sol, da lua, da abóbada celestial, da imensidão invisível que nos percorre dentro e fora; são sensíveis ao que pensamos e modelam a energia que geramos. Por sua vez, nossos pensamentos são carregados de sentidos, sentimentos, emoções e memórias. Somos consequências de nossas ações, que podem ser de ordem reflexivas ou reativas, contemplativas ou impulsivas. A escolha é nossa.
Ilustração: 愚木混株 Cdd20, Shanghai/China
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Kaká Werá Jecupé é escritor, ambientalista e conferencista brasileiro indígena do povo tapuia. É fundador do Instituto Arapoty, empreendedor social da rede Ashoka de Empreendedores Sociais e conselheiro da Bovespa Social & Ambiental. Leciona, desde 1998, na Universidade Holística Internacional da Paz (Unipaz) e na Fundação Peirópolis. Já fez conferências sobre respeito à diversidade cultural no Reino Unido, Estados Unidos, Israel, Índia, México e França.
De 27 a 29 de janeiro, Kaká Werá estará n´A Casa Tombada Nuvem com o curso A Linguagem dos Pássaros: como os sonhos falam. Para saber mais, clique em: https://acasatombada.com.br/27-01-22-a-linguagem-dos-passaros-como-os-sonhos-falam-com-kaka-wera/