Sobre o curso
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Há uma voz que sai de uma boca úmida e irrompe do vermelho da carne (Cavarero). Há uma escrita que sai da mão empunhando uma ferramenta e sulca uma superfície. Há uma escuta que faz tremer a membrana timpânica e os ossos. Há um silêncio que se aloja nas cavidades do corpo. Há o corpo como espaço possível para viver a experiência.
O convite desse curso é para aproximarmos a voz e a escrita. Ou seja:
Há uma voz que se manifesta em nós em sua materialidade corpórea (colocando em jogo saliva, lábios, língua, dentes, palato mole, palato duro, úvula, faringe, laringe, pregas vocais, pulmões etc) e essa voz afeta a nós mesmas (os) e a quem escuta. Voz que encosta na pele e faz vibrar a membrana timpânica, faz mover os ossículos do ouvido, os líquidos da cóclea. Uma voz afeto que em sua materialidade cria efeitos de sentido, pode provocar prazer, pode repelir ou convidar a estar junto.
Há uma escrita que emerge do próprio gesto de escrever, que vai encontrando caminhos de passagens por entre o encontro das mãos (punho, braço, unhas, dedos etc.), as ferramentas (lápis, tinta, faca, giz, graveto etc.) e as superfícies (papel, tela, parede, folha, chão etc.). Escrita que revela a própria escrita, os seus embates, o seu ir e vir, que se afeta com o convite que as palavras, o corpo e os sentidos lhe fazem. Uma escrita por escrever. Uma justa medida entre o que se deseja e o que se consegue escrever. Sem tanto controle, sem tanto desvio. Ou melhor, uma escrita que é o próprio desvio.
Buscaremos, nesse percurso, uma voz-escrita que se produz no/entre/pelo corpo, que se abre ao desejo criador e perfurador da língua, que se abre para outros dizeres, para as diferenças e singularidades. Essa voz-escrita quase incapturável, quase inaudível, que nasce do ato de colocar-se em fluxo com a polifonia de gestos da voz e gestos da escrita que nos constituem.
Primeiro encontro (9/6)
Voz-experiência
- poéticas da anatomia e fisiologia da voz
- gestos de voz
Segundo encontro (16/6)
Escrita-experiência
- poéticas da anatomia e fisiologia da escrita
- gestos de escrita
Terceiro encontro (23/6)
- práticas de escuta
- práticas de voz
- práticas de escrita
Quarto encontro (30/6)
- partilhas da voz da escrita
- partilhas de escuta
Referências:
Agamben, Giorgio. Por uma ontologia do gesto. Belo Horizonte: Chão da feira, 2018.
Amaral. Arthur Iraçu Fuscaldo. Ro’wapari’nhore: sonhar e pegar cantos no Xamanismo A’uwe-Xavante. São Paulo: Porto de Ideias, 2016.
Barthes, R. O grão da voz. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
______________. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 2010. _________________. Aula. São Paulo: Cultrix, 2007.
Cavarero, Adriana. Vozes Plurais: filosofia da expressão vocal. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011.
Chatwin, Bruce. O Rastro dos Cantos. Cia das Letras, 1996.
Oliveros, Pauline. Deep Listening. A composer’s sound practice. New York: i-Universe, 2005.
Skliar, Carlos. Desobedecer a linguagem: educar. Belo Horizonte:Autêntica, 2014.
Sundberg, Johan. Ciência da voz: fatos sobre a voz na fala e no canto. São Paulo. Edusp, 2015.
Quem são as professoras
Ângela Castelo Branco é Doutora em Artes e Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Poeta e arte educadora. Fundadora d’A Casa Tombada- Lugar de Arte, Cultura, Educação. Coordena ações educativas em exposições de artes visuais e literatura como A Biblioteca à noite no SESC Avenida Paulista, Exposição REVER – Augusto de Campos, no SESC Pompeia. É professora de escrita nos cursos de pós-graduação A Arte de Contar Histórias – abordagens poética, literária e performática e O Livro para a Infância – realizados pela Casa Tombada em parceria com a Facon. É autora dos livros “Epidermias” e “É Vermelho o Início da Árvore”. Escreve no www.angelacastelobranco.blogspot.com.
Renata Gelamo, arte-educadora e produtora cultural, é graduada em Fonoaudiologia, Mestre em Estudos Linguísticos e Doutora em Artes pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Professora dos cursos de pós-graduação Canção Popular: criação, produção musical e performance e Pedagogia Vocal: expressão e técnica na Faculdade Santa Marcelina – FASM; professora do curso de pós-graduação Narração Artística: caminhos para contar histórias em contexto urbano na FACON/A Casa Tombada. Faz parte do Vocal SP, grupo formado por profissionais que promove discussões interdisciplinares sobre a voz. Fundadora do Ateliê de Voz.
Interesse por novas turmas
Quando
9, 16, 23 e 30/06 (sempre às terças-feiras)
Das 19h às 21h
Onde
Online
As informações de acesso serão disponibilizadas por e-mail.
Público
Geral
Turma
16 pessoas