Este encontro procurará assimilar e fazer convergir os conceitos do caminhar e do conversar, forçando-os a uma convergência e a uma simultaneidade operativa. Aquela que nos remete para o jogo da pura alteridade e da reversibilidade da afetação – afetar e ser ao mesmo tempo afetado –, a partir de um número finito de possibilidades e propriedades estáveis, isoláveis e articuladas umas sobre as outras. Trata-se de entrar em relação, deixar o nosso domicílio e a ele regressar metamorfoseado. Nestes termos, somos levados a compreender que o  trabalho da invenção se alimenta da constante transitoriedade de pontas que se vão soltando entre uma fala e outra fala, entre um e outro passo, entre esta imagem ou paisagem e aquela outra. Caminhar/conversar, isto é, trabalhar sem parar para atingir esse momento cintilante, esse hiato através do qual a relação interrompida entre duas palavras, entre duas esquinas, uma bifurcação ou um trilho inesperado vão produzindo uma relação estrutural de infinidade. É assim, da abertura e da abundância de possibilidades que aqui se trata ou, dito de outra forma, da evidência de que o ato da criação tem somente como seu intermediário a medida do desconhecido. No seu próprio acontecer, o caminhar e o conversar constroem situações indispensáveis para que a dispersão das existências e o dissenso crítico nos continuem a acompanhar.  

  Bibliografia

1- Careri (2020). Walkscapes: O caminhar como prática estética. São Paulo: Gustavo Gili.

2- Gros, Fréderic Gros (2010). Caminhar, uma filosofia. São Paulo: É Realizações.

3- Heidegger, Martin (2008). Ensaios e conferências. Petrópolis e Bragança Paulista: Editora Vozes e Editora Universitária São Francisco.

4- Onfray, Michel (2009). Teoria da viagem. Porto Alegre: LPM Editores.